domingo, setembro 25, 2011

Síndrome de Korsakoff

Você já viu algum filme no qual uma pessoa perde a capacidade de armazenar novas memórias, e é incapaz de lembrar o que fez minutos antes? Pois uma doença assim existe, e é chamada de síndrome de Korsakoff, em homenagem a Sergei Korsakoff (ou Korsakov), um neuropsiquiatra russo que teve papel importante na descrição da doença. Vide aqui a biografia de Sergei Korsakoff em inglês.

A síndrome de Korsakoff é considerada uma demência, ou seja, é uma afecção onde há perda de capacidades mentais já adquiridas. Ocorre com bastante frequência em alcóolatras devido a uma deficiência não tratada (ou mal tradada) de tiamina ou vitamina B1 (veja o tópico anterior sobre encefalopatia de Wernicke). Mas pode ocorrer também em casos avançados de outras doenças que cursam com deficiência grave de vitaminas, como desnutrição grave.

As características mais importantes desta afecção são:
1. Perda da capacidade de armazenar novas memórias ou amnésia anterógrada - O paciente não mais consegue reter novas informações a partir do início da doença, e as memórias formadas são logo perdidas, devido a uma lesão de duas áreas cerebrais chamadas de tálamo (uma estrutura localizada na profundidade do cérebro) e os corpos mamilares (duas pequenas saliências na base do cérebro em forma de pequenos mamilos) (veja abaixo). Estas estruturas parecem ser importantes na formação de novas memórias. Sem elas, as informações novas que chegam ao cérebro não conseguem ser mantidas e transformadas em memórias de longo prazo. Esta deficiência é chamada de amnésia anterógrada, em contraste com a amnésia retrógrada, onde o paciente não consegue lembrar-se de informações armazenadas antes do evento que cauou a amnésia.

2. Confabulações - Devido à perda da capacidade de armazenar novas memórias, o paciente acaba por preencher as lacunas de sua memória com fatos inexistentes ou fantásticos, criando memórias.

3. Amnésia retrógrada - O paciente pode não ser capaz de lembrar-se de eventos que ocorreram antes do início do quadro. Pode ser menos severa que a amnésia anterógrada. O paciente acaba por perder a própria identidade, e sem memórias ou registros de sua vida no dia-a-dia, vive um dia de cada vez, sem possibilidade de conectar informações novas com as anteriores.

4. Perda de insight ou anosognosia - Esta é a incapacidade que o paciente tem de reconhecer o próprio déficit. O paciente não percebe a deficiência, e acaba por acreditar que tudo está normal, mesmo não estando.

5. Quadros psiquiátricos - Alucinações e delírios podem ocorrer.
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Mammillary_body.gif#filelinks

A imagem acima mostra em vermelho, na base do cérebro, os corpos mamilares.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Encefalopatia de Wernicke

Antes de explicarmos o que é encefalopatia de Wernicke, vamos explicar o que é encefalopatia.

Chama-se encefalopatia a qualquer doença que acometa o cérebro, assim como as doenças que afetam a medula são chamadas de mielopatias, e as que afetam os nervos de neuropatias.

Encefalopatia de Wernicke é uma doença de início agudo (em questão de horas ou dias), causada pela falta de uma vitamina chamada tiamina (vitamina B1). Essa deficiência de vitamina B1relaciona-se a um déficit de absorção de vitaminas pelo intestino, o que pode ocorrer, geralmente, pela desnutrição grave, vômitos graves por dias seguidos, cirurgia de redução de peso, e pelo alcoolismo. Aliás, alcoolismo grave, quando o paciente tem destruição da mucosa intestinal pelo álcool e pode substituir a comida pelo álcool, é a causa mais comum desta doença.

A encefalopatia de Wernicke, que tem esse nome em homenagem ao médico alemão Carl Wernicke (fonte: leia aqui), afeta algumas áreas do cérebro que fazem parte do sistema límbico, o responsável, entre outras coisas, pela memória e pelas emoções. Falaremos mais sobre o sistema límbico em outros posts.

As estruturas do cérebro afetadas pela encefalopatia de Wernicke estão localizadas na base do cérebro, ou seja, a parte mais baixa dele. Observe a figura abaixo:

As estruturas chamadas Thalamus (Tálamo), Hypothalamus (Hipotálamo), Hippocampal regions (Hipocampos) além da ponte (que faz parte do tronco cerebral) são afetadas, podendo ser destruídas de forma grave.

Os sintomas e sinais da encefalopatia de Wernicke podem ser uma combinação dos seguintes:
1. Confusão mental - O clássico "não falar coisa com coisa", mas que se desenvolve em horas a dias;
2. Ataxia - Desequilíbrio grave (o paciente pode não conseguir ficar em pé - Veja aqui);
3. Alterações da movimentação dos olhos (que pode ir desde visão dupla [veja aqui] a paralisia de nervos oculares [veja aqui, aqui e aqui]).

O tratamento desta doença, que deve ser feito sempre em hospital por médico capacitado, envolve a reposição da vitamina B1 por via intramuscular ou por veia, e depois a reposição de energia na forma de glicose pela veia.

O não tratamento desta doença, ou o tratamento inadequado, pode levar à síndrome de Korsakoff, da qual falaremos no próximo post.


domingo, setembro 18, 2011

Álcool e derrame

O consumo leve a moderado de álcool, ou o não consumir álcool, pode estar relacionado a uma diminuição do risco de desenvolver derrame de ambos os tipos (tanto os isquêmicos como os hemorrágicos) (para uma definição de derrames, vá aqui e aqui.

Ao que os estudos indicam, o consumo leve a moderado de álcool, especialmente na forma de vinho tinto, pode aumentar os níveis de HDL (o colesterol dito bom) o mesmo tempo que diminui os níveis do colesterol ruim (LDL) (fonte: Vá aqui), diminuido ou retardando a formação das placas de ateroma nos vasos do cérebro e do coração.

Mas o consumo exagerado de álcool pode levar a algumas consequências danosas:

1. O álcool pode levar a hipertensão arterial, a famosa pressão alta, o que pode causar danos sérios aos vasos, como obstruções vasculares e derrames, além de poder enfraquecer a parede dos vasos dentro do cérebro e dar derrames hemorrágicos;

2. O consumo em excesso de álcool pode levar a insuficiência cardíaca, o que chamamos de miocardiopatia alcóolica. O coração fraco, e mais ainda, com lesões em seus vasos (as coronárias) podendo ocasionar infartos, pode ajudar no aparecimento de arritmias (a mais comum delas sendo a fibrilação atrial, um quadro em que o átrio esquerdo [o local do coração que recebe o sangue vindo dos pulmões e que o manda para os ventriculos para depois ser bombeado para o corpo] não bate, mas treme, fibrila por assim dizer, fazendo com que o sangue fique parado dentro dele formando coágulos). Estas arritmias e os coágulos que se formam podem se soltar do coração e subir para o cérebro, causando derrames;

3. O álcool pode causar lesão do fígado, e perturbar a produção das proteínas que ajudam na coagulação do sangue. Um sangue que não coagula é um sangue dito "fino", e que pode predispor a sangramentos em qualquer lugar, inclusive dentro do cérebro (AVC hemorrágico ou hematoma cerebral) ou mesmo ao redor dele (hematomas subdural e epidural).

Ou seja, há várias maneiras pelas quais o uso excessivo de álcool pode predispor uma pessoa a ter um derrame.

Na próxima página, falaremos da encefalopatia de Wernicke e da Síndrome de Korsakoff

O que o álcool pode fazer contra o seu sistema nervoso?

O álcool etílico ou álcool de cozinha é uma das drogas mais consumidas do mundo. Como droga lícita, acaba sendo encontrado virtualmente em todos os lugares. Consumir álcool ocasionalmente é socialmente aceitável, e algumas vezes até saudável, como o consumo de uma taça de vinho tinto suave por dia, que ao que tudo indica parece ajudar a proteger o coração (Fonte: Vá aqui). Mas o álcool também pode ser seu pior inimigo, e o uso crônico de álcool (alcoolimso crônico ou etilismo crônico - Vá aqui para saber mais) pode levar a problemas em várias esferas, tanto no âmbito social e profissional como no psíquico e físico.

Em termos físicos, o álcool pode afetar seu fígado, levando a cirrose hepática; seu coração, levando a cardiomiopatia alcóolica; seus nervos, levando a polineuropatia alcóolica; ou seu cérebro, levando a demência e outras alterações. Além disso, problemas no estômago (gástricos) causados pelo álcool podem fazer com que certas vitaminas, como a vitamina B12, deixem de ser absorvidas, o que pode piorar ainda mais a situação.

Nestes próximos tópicos, vamos examinar algumas consequências do consumo exagerado de álcool para o sistema nervoso. Como consumo exagerado, neste blog, consideraremos a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), que você por ver aqui.

Depressão grave de longa data pode afetar o cérebro?

Notícia tirada do site Neurology Now

Depressão possui muitos efeitos bem além dos transtornos de humor. A depressão pode levar a alterações do sistema imunológico e dificuldade de recuperação de doenças, além de menores taxas de expectativa de vida. A ansiedade que acompanha a depressão pode causar hipertensão arterial. 


O aumento dos níveis de estresse que acompanham a depressão pode elevar os níveis de glicocorticóide, hormônio produzido pela adrenal (ou supra-renal) e que está relacionado à resposta ao estresse. Esta substância pode ter efeitos danosos no sistema nervoso central, especialmente em uma área do cérebro chamada de hipocampo, crucial para a criação das memórias de longo prazo, ou seja, acaba por ocorrer dificuldade ou incapacidade de guardar novas memórias, o que pode explicar por que pacientes com depressão e/ou ansiedade têm dificuldades de memorização e esquecimentos frequentes. O tratamento da depressão e da ansiedade pode ter efeitos muito benéficos sobre esta perda de memória, inclusive melhorando-a.

Quanto mais cedo o tratamento da depressão começar, melhor, já que menos lesão ocorre e mais controle se tem sobre os sintomas. E o médico adequado para tratar casos de depressão e ansiedade é o psiquiatra. Uma combinação de psicoterapia direcionada para cada caso e uso de medicações é a aposta certa no tratamento.




Níveis elevados de "colesterol bom" podem diminuir risco de doença de Alzheimer

Notícia tirada de:

WebMD Health News

Ter altos níveis de HDL ("colesterol bom") pode reduzir os riscos de desenvolver doença de Alzheimer.  Especialistas chamam a atenção para nova evidência da associação entre doenças do coração e demência. Tratar bem do coração e de suas coronárias pode diminuir os riscos de doença de Alzheimer.
Há evidências de que pessoas com os mais baixos níveis de HDL têm risco significativamente mais alto de desenvolver doença de Alzheimer.


 Além disso, os pesquisadores viram que pessoas com níveis mais altos de LDL ("colesterol ruim") e de colesterol total tinham risco mais alto de desenvolver demência quando possuíam outros fatores de risco, como diabetes, pressão alta, obesidade ou risco genético. O colesterol total e o LDL por si sós não parecem aumentar o risco de demência.


HDL tem a ver com derrames, diminuindo seus riscos, e derrames têm a ver com doença de Alzheimer. Essa pode ser uma ligação entre as duas coisas. HDL também funciona como uma molécula carreadora de proteínas para dentro e fora da célula.

Mas mais importante é manter seu coração saudável. Diminuir seus riscos cardíacos dá-se através do controle de fatores de risco, como controle de pressão alta, diabetes, programa de emagrecimento com atividade física regular, parada do tabagismo e do uso crônico de álcool.


Os níveis de HDL, segundo recomendações da American Heart Association, devem ser acima de 40 mg/dl para homens e acima de 50 mg/dl para mulheres. Níveis ótimos são os acima de 60 mg/dl para ambos os sexos.

terça-feira, setembro 13, 2011

O que é disritmia cerebral?

Não é raro um paciente, geralmente mais velho (na faixa dos seus 40 anos ou mais) me falar que quando criança tinha disritmia cerebral. Mas o que é isso?

Disrritmia cerebral é o antigo nome dado para alterações cerebrais vistas no eletroencefalograma (veja aqui), com ou sem crises epilépticas. Muitos destes pacientes que portavam disritmia cerebral tinham (ou têm) crises epilépticas (vá aqui para saber mais). Mas muitos tinham somente alterações benignas (já que muitos pacientes com enxaqueca ou outros tipos de cefaleia podem demonstrar alterações benignas no eletroencefalograma e não terem crises) ou eram diagnosticados com epilepsia sem alterações verdadeiras no eletroencefalograma.

Portanto, disritmia é um termo ultrapassado. Mas você pode usar este termo para falar de sua história anterior de saúde para seu médico entender melhor, mas saiba que já não é usado mais.

Por que uma lesão de um lado do cérebro leva a fraqueza do outro lado do corpo?

Esta é uma questão que intriga todos os que não trabalham com neurologia. Quando um paciente vai ao consultório do neurologista com uma tomografia de crânio e uma queixa de perda de força de um lado do corpo, por exemplo o direito, fica sempre intrigado pelo fato de o neurologista culpar uma lesão do lado esquerdo do cérebro pelo problema. Hã? Mas não deveria ser o lado direito do cérebro o culpado? Não! E aqui você vai saber o porquê.

Na medula espinhal, que é a via de conexão do resto do corpo com o cérebro, há vários tratos, ou seja, vias de fibras (os corpos dos neurônios, ou seja, os axônios, que podem ser bem grandes) que sobem e descem. Estas vias se originam de neurônios e, ou sobem para fazer ligação (sinapse) com os neurônios no cérebro, ou descem para fazer sinapses com neurônios na própria medula ou em órgãos internos. Entre estes tratos, há três que podemos considerar os principais (há vários outros, mas vamos usar estes três para exemplificação):

1. Trato corticoespinhal lateral ou trato piramidal - É um feixe de fibras descendentes responsável pela movimentação do corpo. Há um do lado direito, e um do lado esquerdo.
2. Trato espinotalâmico lateral - É um feixe de fibras que sobre a medula (ascendente) e é responsável pela sensibilidade de temperatura, dor, e tato superficial do corpo. Da mesma maneira há dois, um de cada lado.
3. Trato ou fibras da coluna posterior da medula - Conjunto de fibras que sobem pela parte de trás da medula em duas colunas distintas, responsável pela sensibilidade dita profunda, ou seja, vibração e sensibilidade de posição do corpo no espaço. Também há um de cada lado da sua medula.

Cada um desses tratos cruza para o lado oposto. O trato piramidal desce do seu cérebro, vai até o tronco cerebral e lá cruza para o lado oposto (pelo menos a maior parte, 90% dele; os outros 10% descem para ajudar a movimentação do tronco do mesmo lado). O trato espinotalâmico logo ao nascer dos neurônios da medula já cruzam para o outro lado para subir ao cérebro, e o trato posterior vai cruzar lá em cima, no tronco cerebral também. Embaixo, vai um esquema mostrando estas vias de sensibilidade da medula:

https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS5UvVd374uJY58MV6-eXVC-AGDBlJ5Qg5TvOKKxd4LwjIrfd7N


A via em cor de rosa é o trato espinotalâmico, e a via em verde é o trato posterior. Observe que a via cor de rosa entre na medula e já cruza para o lado oposto. Enquanto isso, a via verde vai cruzar lá em cima, já na parte baixa do cérebro, o tronco cerebral. As fibras que entram pelo lado direito são sentidas pelo hemisfério cerebral esquerdo, e vice-versa. Por isso que um derrame do lado direito dá perda de sensibilidade do lado esquerdo do corpo, e vice-versa.

Olhe esta outra figura abaixo:

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqVKgVlRSLojO1aJTh68mpsr8E3DixA8V0v3UHV9xef4wHIS8laApHPrkGMW-Qu68tl77e48pY4H1XhR82ZBKT2FuajCnckQHzr3hIIeogtL_Ho3pOPZZ8YyrQgcSlgr4BX-SmAWr7zto/s1600/Pyramidal+tract.png

Esta figura mostra o trato piramidal. As fibras que se originam do hemisfério cerbral direito descem e cruzam no tronco, lá em baixo no cérebro, e vão para o lado esquerdo, e vice-versa. Mas 10% não cruzam, e ficam do mesmo lado. Por isso que um derrame do lado direito do cérebro dá fraqueza do rosto e do corpo do lado esquerdo, e vice-versa, mas o tronco (tórax e abdome) permanecem fortes do lado fraco, por que as fibras que descem pelo mesmo lado são as que inervam estes músculos.

Agora, por que isso ocorrer? Por que as fibras cerebrais cruzam? Não se sabe! Não se conhece o motivo, como se desenvolveu isso e a partitr de que ponto da evolução do homem isso ocorreu. Sabe-se, somente, que é assim que as coisas funcionam.

quarta-feira, setembro 07, 2011

Para que serve o exame de eletroneuromiografia?

Outro desses nomes estranhos e supergrandes (Quando eu era pequeno, era uma dificuldade falar a palavra otorrinolaringologista. Você já tentou?). Mas os pacientes conhecem este exame como o exame dos choquinhos e das agulhas. Ficou na mesma? Vamos explicar:

Como já falei em vários posts anteriores, o sistema nervoso é formado pelos sistemas central, periférico e autonômico. O periférico são os nervos e os músculos. Não é difícil examinar os nervos sem vê-los de perto ou tocá-los. É simplesmente questão de saber onde cada nervo vai, para qual parte do corpo cada nervo vai e qual músculo cada nervo inerva, e o médico pode ter uma ideia de qual nervo está afetado.

Os nervos se dividem em motores, sensitivos e mistos. Os motores puros são aqueles cuja função é somente a movimentação muscular, e não têm outra função. No corpo, são raros estes nervos, e os mais conhecidos são os nervos cranianos oculomotor, troclear, abducente, acessório e hipoglosso (já falamos dos três primeiros em posts anteriores). Os sensitivos puros são aqueles cuja única função é a sensibilidade da pele e das mucosas (boca, língua, vagina, uretra, etc...). Aqui temos o cutâneo lateral da coxa, os cutâneos do braço e antebraço, e outros nervos. Os mistos são os mais comuns, e carreiam tanto sensibilidade como função motora. Alguns nervos também carregam informações çpara as glândulas do suor (sudoríparas), da salivação, para a motilidade dos órgãos internos e outras funções, ditas autonômicas, pois independem de nossa vontade.

Bem, mas o exame dos nervos e dos músculos é somente o exame clínico, de se pegar, palpar, mover, tocar o paciente e verificar sua força? Não, há um exame que nos permite examinar mais a fundo os nervos e os músculos do corpo, verificando sua estrutura, sua função e suas doenças. Esse exame é a eletroneuromiografia. E esse exame é tão importante que é considerado extensão do exame do consultório.

 A eletroneuromiografia é composta de duas partes: 1. A parte dos choquinhos, ou estudo de condução nervosa, onde o médico através de leves choques dados aos nervos através de eletrodos aplicados á pele consegue dizer como está a condução dos impulsos pelos nervos. 2. A parte das agulhas, é quando o médico insere agulhas nos músculos selecionados para estudo para verificar não somente como estão os músculos, mas também para determinar como está a condução dos nervos motores.

O exame não somente nos diz se há problemas do sistema nervoso periférico, como nos ajuda a determinar qual a origem deste problema. O médico experiente e com tempo adequado consegue dizer se o problema está na medula, nas raízes dos nervos, nos plexos, nos nervos em si ou nos músculos. Diz ainda se são só os nervos motores, só os sensitivos, ou os mistos que estão acometidos. E diz mais. Diz se a lesão está na bainha que reveste o nervo (mielina - lesão desmielinizante) ou no nervo em si (lesão axonal). O exame permite ao médico ainda dizer se há lesão muscular e o tipo de lesão, auxiliando no diagnóstico de doenças do músculo.

Logo, é um exame difícil e por vezes doloroso, mas nos traz informações que somente o exame de consultório muitas vezes não dá.

Abaixo você vê um vídeo em espanhol com legendas em português sobre a eletroneuromiografia (popularmente conhecido como ENMG ou EMG), tirado do youtube (copie e cole no seu browser para assistir - dura somente 4 minutos):


http://www.youtube.com/watch?v=q60Q1xVNMDM&feature=player_detailpage




segunda-feira, setembro 05, 2011

Neuralgia pós-herpética

Falamos do herpes zóster, e agora vamos falar de uma complicação do herpes que é a neuralgia pós-herpética.
O termo neuralgia fala de uma dor de origem neural, ou seja, uma dor que se origina no sistema nervoso. Aqui abro um parêntese para diferenciar dois tipos de dores, a dor nociceptiva e a dor neuropática.

A dor nociceptiva é a dor que ocorre quando sofremos uma lesão. Essa é a dor da lesão por queimadura, por objetos que nos cortam ou perfura nossa pele, por batidas e traumas, por fraturas ou luxações. Para ocorrer essa dor, deve haver lesão de tecidos, de estruturas do corpo, lesões da pele ou órgãos. Essa dor tem um objeto que a causa, uma tesoura, um caco de vidro, um pedaço de madeira, uma lasquinha de madeira, uma mordida de cão, um acidente de carro...

Já a dor neuropática é diferente de tudo isso. A dor dita neuropática ocorre sem lesão alguma, ou a lesão já ocorreu, já sarou, já cicatrizou, e a dor continua. Não há mais lesões, podendo haver cicatrizes. Não há mais inflamação visível na pele ou nos tecidos abaixo da pele. Mas a dor continua lá. Essa dor é ocasionada por mecanismos neurológicos de perpetuação de dor, que envolvem os próprios nervos, a medula e o cérebro. Substância são liberadas que mantém a dor, mesmo sem haver objeto que a cause. A dor aqui tem características próprias. Ela pode ser de leve a intensa, espontânea, piora quando toca-se a área lesada. Aqui há o que chamamos de hiperalgesia, que é o excesso de sensação dolorosa desproporcional ao estímulo, ou seja, toca-se a pele e a dor que se sente é insuportavel. Há também a hiperpatia, que são manifestações autonômicas (sudorese, batedeira no peito, falta de ar) e psíquicas (ansiedade, medo) com a estimulação do local dolorido, frequentemente também desproporcional ao estímulo. A alodinia é a sensação anormal de dor causada por estímulos que normalmente não causam dor. O paciente, por exemplo, com neuralgia pós-herpética pode ter sensibilidade local tão intensa que o simples tocar da roupa no local causa uma dor em fisgadas e queimação intensa e por vezes insuportável.

O nome pós-herpética significa que a dor ocorre após a infecção pelo vírus do herpes, geralmente passados 3 meses da infecção sendo que a dor continua lá, e não há mais lesões locais. Você não mais vê lesões bolhosas nem crostas. Somente cicatrizes, sem porventura houver.

A dor ocorre nos dermátomos afetados pelo herpes. Pode ocorrer depressão e ansiedade com a dor por conta dos sintomas. O tratamento deve consistir de medicações como antidepressivos para a dor e para a ansiedade/depressão, anticonvulsivantes como gabapentina ou carbamazepina, e medicações locais como a pomada de capsaicina, uma pomada de pimenta em variadas proporções (de 0,025% a 8%) com efeitos variados.

Essas medicações todas devem ser prescritas por médico competente nesta doença. Se você sofre de dor neuropática ou neuralgia pós-herpética, diminua seu sofrimento, vá a um neurologista ou neurocirurgião. E nunca se auto-medique.

O que aconteceria se a gente usasse 100% do cérebro?

Notícia adaptada da Superinteressante de agosto de 2011

Esse negócio de que só usamos 10% de nosso cérebro é balela. Na verdade usamos todo o cérebro (100% dele), mas não todo o seu potencial (ah, aí está a questão). Um ato tão simples quanto conversar com o colega ao lado pode ativar todas as áreas do cérebro. Mas só uma parte do potencial de cada uma. Se todas as áreas funcionassem em potência máxima, e ao mesmo tempo, teríamos uma capacidade de digerir informações, sensações e pensamentos muito maior. É como um computador: usando todos os seus recursos, o cérebro teria muito mais capacidade de processamento. Não ganharíamos superpoderes. Mas quebrar códigos, tirar conclusões e analisar situações seriam tarefas muito mais fáceis.

As informações são processadas através dos neurônios com a ajuda imprescindível de suas células de suporte, as células gliais (Leia aqui), e transmitidas de neurônio em neurônio através das sinapses. São o número, a variedade e a capacidade de criar e ativar sinapses, além das variáveis relacionadas às células gliais, que determinam o processamento e a capacidade mental de cada um.

Mas mesmo se todos nós fôssemos gênios, ainda assim, ninguém seria bom em absolutamente tudo. Alguns teriam facilidade para música, outros para física. Há algo, no entanto, que seria comum a todos: nosso cérebro ficaria cansado de tanto trabalho. E, exatamente como um computador, daria pau de vez em quando, nos deixando com uma bela dor de cabeça.

O cérebro é composto de várias áreas que podem ser ativadas por uma única sensação, um único estímulo. Há regiões cerebrais corticais para codificar ocores, sabores, estímulos visuais, estímulos de toque (táteis), estímulos auditivos, etc. Imagine-se cheirando uma flor. Imagine também que quando você tinha 13 anos de idade, e estava encantado pela sua amiguinha de escola, você deu esta flor a ela, mas antes sentiu o odor que saía de suas pétalas (poético). Hoje, anos mais tarde, você se depara com a mesma qualidade de flor, e ao cheirá-la vêm-lhe à memória as mesmas lembranças da garotinha daquela sua escola. Ou um odor traz-lhe à mente, imediatamente, sensações desagradáveis, como sensação de sufocamento ou desespero. Estas interações entre áreas cerebrais, entre regiões diferentes, são comuns e normais em todos nós, mas tornam-se intensas e numerosas em pessoas muito inteligentes, que conseguem fazer associações imediatas entre coisas aparentemente sem nexo, consegue tirar conclusões imediatas a partir de situações que lhe são apresentadas, ou conseguem fazer cálculos por métodos engenhosos.

É como uma pessoa que tem várias conexões sociais e profissionais. Quanto mais conexões pessoais você tiver, mais sucesso você poderá ter em sua vida social e profissional (Fonte: Esquisitologia. A estranha psicologia da vida cotidiana. Richard Wiseman. Ed BestSeller, 2008 - aliás, um ótimo livro).

domingo, setembro 04, 2011

Herpes Zóster

O herpes zóster, também chamado pelos antigos de cobreiro, é uma reativação de uma infecção antiga da varicela (chamada popularmente de catapora), geralmente em pacientes idosos ou com a imunidade abalada (imunodeprimidos).

Um vírus é uma estrutura composta de proteínas e um núcleo que pode conter tanto DNA como RNA (no homem e nos outros animais da natureza, o RNA serve para construir o DNA) (Veja imagem abaixo). Um vírus pode ser contido, mantido sob controle, mas dificilmente consegue-se a eliminação completa de um vírus de nosso corpo. Como os vírus vivem dentro de células, pois necessitam delas para se manter e multiplicar-se, eles acabam ficando contidos e controlados somente. Mas quando algo como queda de imunidade (como em caso de câncer, depressão ou AIDS) ocorre, esta contenção cai, e o vírus pode então voltar à ativa.

Vários tipos de vírus e suas estruturas:



Esta figura veio daqui:http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1525

Por exemplo, o herpes simples, aquela lesão que vem e vai na boca entre a pele e o lábio, nada mais é do que a reativação de um vírus latente no gânglio do nervo trigêmeo. Da mesma maneira o herpes zóster, a reativação do vírus da catapora, latente nos gânglios que se comunicam como sistema nervoso central.

E quais são os sintomas do herpes zóster? O herpes zóster pode afetar qualquer local do corpo, como a região do olho (herpes zoster ophtlamicus), o ouvido e o nervo facial (herpes zster oticus), os membros ou, mais comumente, o tronco. No tronco, o local mais comum, o herpes costuma afetar uma faixa, de um lado ou do outro, e que corresponde a uma raiz nervosa, um nervo que tem ligação com a medula.

Antes de prosseguirmos, uma pequena nota de anatomia. Os nervos sensitivos do corpo comunicam-se com a medula seguindo padrões, chamados de dermátomos. Há vários dermátomos no corpo, e estes correspondem a um nível na medula. Observe abaixo um mapa dos dermátomos do corpo:

Esta figura veio daqui: http://www.psiquiatriageral.com.br/psicossomatica/neuro3.htm



Bem, se o vírus atinge o gânglio onde está o nervo responsável pela raiz de T4 (quarto segmento torácico ou dorsal), o paciente sentirá dores e fisgadas com dormência na região de T4 (que em geral é a região do mamilo). A lesão começa atrás, perto da coluna, e segue para a frente, nunca ultrapassando a linha média, ou seja, não vai para o outro lado, ao menos que os dois lados estejam afetados, o que é raro. Em geral, aparecem lesões vermelhas extremamente dolorosas, com uma base avermelhada, que ao longo dos dias vão secando e criando crostas. Pode sair secreção transparente ou purulenta das lesões. As lesões secam e curam após 14 a 21 dias, mas a dor e a dormência podem persistir por semanas. A dor pode se intensa a ponto do paciente não conseguir colocar as roupas ou se cobrir ou banhar.

As lesões podem acometer os braços ou pernas. Em geral, só um dermátomo é atingido, mas pacientes idosos, imunodeprimidos, com doenças crônicas ou AIDS podem ter mais de um segmento acometido. Nestes pacientes, e mesmo em alguns poucos pacientes saudáveis, as lesões podem ser muito extensas e muito dolorosas.

Não é uma imagem das mais bonitas, mas para aprendizado, aqui vai uma figura de uma lesão herpética:



Esta figura veio daqui: http://www.beltina.org/health-dictionary/herpes-zoster-treatment-symptoms.html

O tratamento varia, dependendo da extensão das lesões e do julgamento do médico que assiste o paciente, desde pomadas e medicamentos tópicos a uso de antivirais pela boca ou mesmo pela veia para casos mais graves, como o herpes que acomete a região ocular e o olho, ou o herpes que acomete o nervo facial. Tão importante quanto o tratamento é saber se há alguma doença por baixo da recidiva do vírus, como diabetes, malignidades ou outra doença que cause diminuição da imunidade. Isso só seu médico pode fazer. O que você tem de saber é, se isso ocorrer com você, não espere, e vá imediatamente a um médico, pois um tratamento mais rápido possível ajuda a diminuir a dor, a curar mais rápido das lesões, e possivelmente a evitar a complicações mais séria desta infecção, a neuralgia pós-herpética, da qual falaremos no próximo tópico (Referência)