quinta-feira, abril 21, 2011

Alguém já ouviu falar de síndrome de Guillain-Barré?



Síndrome de Guillain-Barré (a partir de agora, iremos nos referir a esta doença com a sigla SGB), que nome difícil. Tão difícil, que parece um insulto. Mas na verdade, esta doença, também chamada por outro nome difícil, polirradiculoneuropatia inflamatória aguda, é uma das causas mais comuns de incapacidade em pacientes jovens, e muitas vezes sem doenças prévias.

Bem, vamos ao básico para você entender e não se complicar:

Já falamos que o sistema nervoso é composto de duas partes básicas - o central (cérebro, tronco cerebral e medula), e o periférico (nervos, raízes destes nervos, e músculos). Pois é, a SGB afeta esta última parte, os nervos e raízes. 

Aqui você vê o sistema nervoso central. O cérebro lá em cima, em forma de um capacete. O tronco cerebral (mesencéfalo, ponte e bulbo) liga o cérebro à medula, que vem logo embaixo, como um bastão. É da medula que saem os nervos, que ligam o cérebro à periferia do corpo, seus braços, pernas, pescoço, tronco. etc...

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Bem, e o sistema nervoso periférico é esse aqui ao lado.

Os feixezinhos em amarelo saindo da medula são os nervos. Eles saem da medula na forma de raízes, formam plexos que originam nervos, que vão os músculos, glândulas, etc...

E há vários tipos de nervos. Nervos motores puros, que só servem para fazer um músculo se mexer, nervos sensitivos puros, que só servem para transmitir a sensibilidade ao cérebro vinda da periferia (dor, tato, posição do corpo no espaço, etc...), e nervos mistos, que funcionam com as duas funções (são os mais comuns) e que ainda carregam nervos que fazem agir uma glândula, ajudam a fazer funcionar o coração, os intestinos, a bexiga, etc... (nervos autonômicos). Mais ainda, há uma capa chamada de mielina que encobre alguns nervos, ditos mielinizados (os mais grossos, e que transmitem informação a grandes velocidades, diferente dos sem essa capa, chamados de não mielinizados, de condução mais lenta, e de informação menos precisa). E olha um nervo aí:



Os axônios são o corpo do nervo. O gânglio é onde ficam as cabeças, os neurônios, de onde saem os axônios. E eles estão separados uns dos outros e protegidos pela mielina, que ajuda na condução rápida do nervo.

Pois bem, quando ocorre uma inflamação, e esta inflamação atinge as raízes e os nervos (esses aí de cima), levando a fraqueza nos quatro membros (o que chamamos de tetraparesia), perda de reflexos (reflexos são aquelas reações engraçadas que temos quando o neurologista bate com o martelo na nossa perna ou no nosso braço, e o braço ou a perna mexem sós, sabe?), formigamentos nas pernas ou nos braços, chamamos de polirradiculoneuropatia aguda, ou SGB.

E essa doença tem cura? Sim! Tem, para os que acham que neurologia cuida somente de doenças sem cura, essa tem! E não é difícil. A doença é rápida, e o tratamento também tem de ser. Então, caso você ou alguém conhecido apresente estes sintomas de fraqueza nos quatro membros (a fraqueza geralmente começa nas pernas e vai subindo para os braços, e mais raramente para o rosto), formigamentos sem perda de sensibilidade (há só a dormência, mas a sensibilidade à dor ou ao tato estão ok), ou fraqueza no rosto, deve ir imediatamente a um pronto-socorro, pois pode ser SGB (mas podem ser outras coisas também, e só o médico saberá dizer o que é).

O tratamento é feito à base de uma medicação chamada de imunoglobulina humana (anticorpos humanos) ou uma forma de diálise chamada de plasmaférese. Geralmente a doença para de evoluir em 2 a 4 semanas, e regride em semanas. Casos raros ocorrem em que a doença não para de progredir, ou re-aparece. A estes casos, raros, chamamos de polirradiculoneuropatia inflamatória crônica. Falaremos dela em outros tópicos.

Quais as possíveis consequências do diabetes no sistema nervoso?

O diabetes é uma doença conhecida por todos, e envolve, na sua forma mais comum, o tipo 2, aumento da glicose no sangue por conta da incapacidade das células do corpo de absorver e manusear a glicose (intolerância a glicose). Sua causa mais comum é a obesidade central (a famosa barriga).

O diabetes tem várias consequências ao corpo, e as neurológicas são bastante devastadoras.
Entre elas, podemos citar:

1. Derrame - O diabetes é uma das causas mais comuns de derrames juntamente com a pressão alta.

2. Neuropatia periférica - Se você é diabético, já deve ter sentido aquelas sensações de formigamento, choques, dores como alfinetadas ou queimação nas pernas e pés - pois é, esses são sintomas do acometimento dos nervos das pernas pelo diabetes, cuja tendência, caso a diabetes não seja controlada, é a piora progressiva.

3. Epilepsia - Sim, e vou explicar como. Diabetes leva a derrames, e derrames podem levar a crises convulsivas, e por conseguinte, epilepsia.

4. Perda visual - O diabetes tanto pode causar perda de visão por doença da retina, como por um coágulo que se desprende dos vasos do pescoço e vai para os olhos (embolia), o mesmo mecanismo que leva aos derrames.

5. Desmaios - O diabetes pode levar a doença da carótida, o vaso do pescoço e um dos que vão para a cabeça, e placas neste vaso podem levar a dificuldade de o corpo reconhecer quando a pessa está de pé ou deitada (o corpo faz isso também por meio de receptores na carótida, que sente mudanças na pressão sanguínea). Se estes receptores não sentem estas modificações direito por conta de placas, pode haver desmaio quando deitado se levanta rápido, por que a pressão não consegue aumentar a tempo. Este é um dos mecanismos de desmaio (síncope) em idosos e diabéticos.

Voltaremos a falar de diabetes depois.