terça-feira, julho 12, 2011

Como a toxina botulínica funciona?

Desde sua descoberta como medicação, a toxina botulínica (BxT) vem recebendo cada vez mais indicações de uso. Tudo começou com estrabismo (ou seja, olhos vesgos), e hoje é utilizada para várias coisas, desde contrações musculares, bexiga hiperativa, até sudorese excessiva e enxaqueca.

Mas você sabe como a BxT funciona?

Bem, antes de mais nada, vamos falar um pouco sobre junção neuromuscular. Para que o cérebro e a medula consigam mexer um músculo, é necessário que o comando ditato por eles trafegue por um nervo motor até o músculo que irá fazer a ação. Nervos motores são os nervos que ocasionam a contração muscular. E a união entre um nervo motor e o músculo é a junção neuromuscular.

Esta junção é uma forma de sinapse, ligação entre nervos ou estruturas nervosas. E toda sinapse é formada por um terminal pré-sináptico (ou seja, o que está antes da sinapse, e que libera substâncias químicas, os neurotransmissores, que irão propiciar a ação solicitada), a fenda sináptica (onde os neurotransmissores são liberados), e o terminal pós-sináptico (o terminal que fica do outro lado, o que recebe os neurotransmissores, e que na junção neuromuscular é a própria célula muscular).

Os neurotransmissores são substâncias que ligam-se a outras moléculas no terminal pós-sináptico, os receptores, e através deles realizam ações, como contrair um músculo ou fazer uma glândula produzir suor. Há vários neurotransmissores, como a noradrenalina, a acetilcolina, o glutamato, a dopamina, a serotonina, o GABA. Mas para a BxT, o que importa é a acetilcolina, e é este neurotransmissor que existe às pampas nas ligações entre o neurônio e o músculo.

Observem uma junção entre neurônios:


Esta figuira veio daqui: http://neurociencia-educacao.pbworks.com/w/page/9051885/Sinapse

Observem agora um terminal neuromuscular:

 Esta veio daqui: http://www.poderdasmaos.com/site/?p=Sistema_nervoso_-_Medula_Espinhal_12081

Você observa que os neurotransmissores são produzidos e armazenados em vesículas, e através de um sistema de ligação (feito por várias moléculas), estas vesículas se unem à membrana do neurônio (a membrana pré-sináptica) e libera seu conteúdo na fenda sináptica, que age em receptores no terminal pós-sináptico (a miofibrila, que é a célula muscular).

Muito bem, tudo isso é muito bonito, mas também muito difícil de entender. E o que eu, leigo, tenho a ver com isso?

Pois é no terminal pré-sináptico que a BxT age, impedindo que s vesículas com acetilcolina liguem-se à membrana e sejam liberadas à fenda. Ou seja, a BxT impede que o músculo contraia. Simples assim.

A BxT é um complexo de duas moléculas, uma grande e uma pequena (respectivamente, cadeias pesada e leve). A cadeia pesada serve para auxiliar a cadeia leve a entrar no terminal pré-sináptico. E é a cadeia leve que age, impedindo as vesículas de se ligarem aos terminais, pela destruição das proteínas que servem de âncora, de ligação, das vesículas à membrana pré-sináptica. Ou seja, as várias vesículas de acetilcolina ficam aguardando serem ligadas, e lá ficam, aguardando... e não funcionam por que não são liberadas.

Lá vai um vídeo tentando explicar isso. Ele é de domínio público (está no youtube.com) e não tem som, mas possui legendas em português.



Mas este efeito é passageiro, e dura em média 3 a 4 meses, pois nesse período novas proteínas são formadas, e novos terminais brotam para auxiliar a contração muscular.

Falaremos mais depois.