terça-feira, agosto 02, 2011

O eletroencefalograma serve para diagnóstico de dor de cabeça?

Na imensa maioria das vezes, o eletroencefalograma não serve para diagnóstico de cefaleia! E explico o porquê em tópicos:

1. A maior parte das cefaleias em consultório são primárias, ou seja, sem causa definida, e portanto, uma boa história clínica (anamnese) e um exame neurológico, mesmo que resumido, mas bem feito podem dizer a causa ou chegar perto da causa da dor;

2. E mesmo que esta abordagem falhe em dar o diagnóstico, há exames mais específicos para as causas da dor:
a. Se o médico pensar em problemas da coluna cervical (pescoço) como causa da dor, solicita-se uma radiografia do pescoço
b. Se o médico suspeitar de uma inflamação dos vasos da cabeça (arterite temporal, que pod ocorrer mais em idosos e costuma levar a perda visual e dor para mastigar), solicita-se exame de hemograma, VHS e PCR (Proteína C Reativa, marcador inflamatório juntamente com o VHS, que é Velocidade de Hemossedimentação);
c. Se o médico estiver pensando em doenças dentro da cabeça, como tumores ou qualquer outra coisa, ele pedirá uma tomografia ou uma ressonância de crânio, e não um eletroencefalograma;

3. Sinusite raramente dá dor que dure semanas a meses. A dor costuma durar dias, pode haver febre, nariz escorrendo ou entupido, sensação de secreção descendo pela parte de trás da garganta, etc... e nesses casos, uma avaliação otorrinolaringológica, com tomografia de seios da face e nasofibroscopia, podem ajudar. Um eletroencefalograma nunca ajudaria aqui.

E quando o eletroencefalograma pode ajudar? Quando a dor de cabeça é causada por uma crise epiléptica ou convulsão, podendo haver sintomas que se parecem com os sintomas de uma enxaqueca, mas que um neurologista experiente sabe diferenciar bem.

Por exemplo, um paciente pode ter uma crise de uma área do cérebro chamada de lobo occipital (veja abaixo), cujas manifestações iniciais podem ser visões que se parecem com as auras ou alterações visuais que precedem a enxaqueca (como traços brilhantes, figuras geométricas que crescem e diminuem, pontos brilhantes ou escuros), mas há características que as diferenciam, como a duração, as formas que os pacientes vêem nestas crises, a localização das formas no campo de visão, e os efeitos posteriores. Para estes casos, e acredito que somente nestes, o eletroencefalograma pode ser útil.



Figura tirada de http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/foto/0,,14511165,00.jpg. Nesta figura, mostra-se o cérebro, estando o lobo occipital, local de recepção das vias cerebrais que "lêem" a visão, em branco.

Quem quiser se aprofundar mais na leitura, e souber ler inglês,  vai se interessar pela revisão da Academia Americana de Neurologia sobre o eletroencefalograma no diagnóstico de cefaleia. Além de um parâmetro fisiológico chamado de resposta H ou driving fótico, que não é costumeiramente mensurado em EEG de rotina, e que poderia ajudar no diagnóstico de enxaqueca, apesar de estudos mostrarem que a história clínica é superior a este teste no diagnóstico, não há outros motivos para solicitar EEG em dor de cabeça fora os descritos acima. O link é este.