segunda-feira, janeiro 16, 2012

O que pode ser um zumbido no ouvido?

Dormir muitas vezes é complicado, especialmente quando um ruído ou barulho nos incomoda. Mas, e quando este barulho vem de dentro de nossa cabeça, ou de nosso ouvido? E não é incomum (na verdade, é muito comum) pacientes chegarem ao consultório com a queixa clássica de que há "um barulho na minha cabeça que não me deixa dormir à noite". A este barulho, chamamos de zumbido, ou na linguagem técnica, tinito (tinnitus). 

Cerca de 17% da população mundial apresenta estes sintomas, e destes, 20% apresentam sintomas severos o suficiente para comprometer a qualidade de vida e causar mais problemas, como ansiedade, depressão e transtornos do sono.

Zumbido não é doença somente de idosos (apesar de ser mais comum nesta faixa etária) e cada vez mais pessoas jovens aparecem no consultório com estes sintomas. Na imensa maioria dos casos o zumbido não representa doença grave, é benigno e não leva a problemas mais sérios além do desconforto que causa.

O zumbido é uma sensação na maior parte das vezes subjetiva, isto é, somente a pessoa que o apresenta consegue ouvi-lo. Mas há casos de zumbido objetivo, quando outras pessoas próximas conseguem ouvir o zumbido também. Nestes casos, devem-se considerar outras causas.

O zumbido deve ser observado pelo paciente, de modo que seu relato possa ajudar o médico no diagnóstico de sua causa, e assim, fornecer o melhor tratamento. O tipo mais comum é o tonal, ou seja, como uma nota musical que se prolonga, um chiado, um apito ou como um mosquito no ouvido. Há tipos referidos como uma cachoeira ou como uma panela de pressão no ouvido. 

Do outro lado, o zumbido pode ser contínuo, como uma nota que se prolonga indefinidamente, ou pulsátil, pulsando concomitante ou não ao coração. Isso tem de ser observado pelo paciente.

Dentre as causas mais comuns de zumbido em todo o mundo, temos as doenças do ouvido, como rolhas de cera; doenças crônicas como otites médias crônicas; disfunção da via de ligação do ouvido com a garganta, a tuba auditiva ou tuba de Eustáquio; e a otoesclerose, doença comum em idosos em que há degeneração dos pequenos ossos que ligam o tímpano ao resto do ouvido, o martelo, a bigorna e o estribo. Nestes casos, o zumbido costuma ser tonal, subjetivo e contínuo. Veja abaixo:

http://www.capeotorrino.com.br/doencas/images/ouvido.jpg
Esta figura mostra o ouvido, com a membrana timpânica ou tímpano, o ouvido médio e a tuba auditiva ou de Eustáquio, um canal ósseo-fibroso que liga o ouvido à garganta. Ela serve como meio de igualar a pressão dentro do ouvido com o meio, e ao viajar de avião ou mergulhar em grandes profundidades o ato de engolir ou mastigar chiclete ajuda a abrir a tuba e igualar a pressão no ouvido com a do meio, diminuindo a possibilidade de dor no ouvido nestes casos. 

Observe abaixo ainda:

http://www.afh.bio.br/sentidos/img/Sentid24.jpg
Estes são os ossículos do ouvido, a bigorna, o martelo e o estribo, os menores ossos do corpo, e que ajudam a transferir as ondas sonoras que se chocam contra o tímpano para o ouvido médio e o interno, a fim de serem decodificadas em sons pelo cérebro.

Doenças que cursam com diminuição da audição e medicações que causam doenças do ouvido (ototóxicas) podem causar zumbido. Um exemplo de doença que causa diminuição da audição, além a otoesclerose, é o barotrauma. Barotrauma é o trauma ao ouvido causado por exposição a ruídos muito altos por longos períodos de tempo. Pessoas que trabalham em oficinas sem equipamento de proteção contra ruído, que trabalham com britadeiras sem a proteção adequada, ou que trabalham em casas noturnas (como DJ's), expostos a barulhos intensos, além de outros tipos de empregos, podem apresentar barotrauma.

Os zumbidos pulsáteis, especialmente os objetivos, são raros e podem ser causados por outras doenças. As doenças que serão descritas a seguir são somente para sua informação, e não devem ser usadas como fonte de diagnóstico por você ou seus familiares, cabendo somente ao médico fazer diagnóstico da causa de zumbido pulsátil. 

1. Placas nas carótidas - Podem levar a zumbido pela produção de som derivado da passagem do sangue entre a placa de ateroma e a parede do vaso. Observe abaixo:

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUZZKrWN-T977J6Ue5w6bDYssN5Z7g2mOPlarIKLx89WPJvT1-PYo0KrXqjOD0NNHNTM2_YG1uyZoQX7SGdICJAZXymw8Mk7RV4ErN2t6cIx059gXpHc8DUl2k4xNSDYdPQnjw6Vz_jrs/s1600/aterosclerose2.JPG
2. Otite média aguda - A inflamação purulenta aguda do ouvido pode causar zumbido desse tipo. Um exame pelo otorrinolaringologista pode demonstrar isso. Nestes casos, observa-se o desenvolvimento agudo de dor no ouvido, podendo haver febre, após ou durante um quadro de infecção de vias aéreas superiores (IVAS) como uma gripe ou sinusite, por exemplo.

3. Malformações artério-venosas cerebrais - Estas são conjuntos de vasos malformados onde há a ligação anormal entre uma artéria e veias, formando vários canais de vasos malformados. Aqui pode-se ter a sensação de um zumbido pulsátil objetivo. Observe abaixo:

http://www.taafonline.org/_images//Figure_1a--Lateral_anatomy.jpg

Observe a aparência de uma malformação artério-venosa em um exame de imagem cerebral:


http://scienceblogs.com/purepedantry/upload/2006/12/avm.jpg
Nesta angiotomografia, observa-se um novelo que correspone à malformação.

4. Alguns tipos raros de tumores, como tumor de glomus de jugular. A jugular é uma veia grande que drena a cabeça e face, corre pelo pescoço e vai desembocar em uma veia maior chamada de veia cava superior. Observe abaixo a veia jugular:

http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSNHSrtki6retQnnO7nHDHH5ruNnZQqTyAGLw85syj4q9sWJnfV
A jugular passa próximo a ouvido, por dentro da cabeça. O tumor de glomus de jugular é uma alteração da estrutura da veia, que pode levar a zumbido.

5. Fístula carótido-cavernosa - Fístulas são passagens anormais entre estruturas. A causa mais comum de fístulas entre vasos cerebrais é trauma craniano. Fístulas carótido-cavernosas são ligações anormais entre a artéria carótida quando passando dentro da cabeça, e um conjunto de veias superimportante atrás de seu olho chamado de seio cavernoso. Observe abaixo:

http://www.netterimages.com/images/vpv/000/000/003/3427-0550x0475.jpg
O seio cavernoso está em azul, e a artéria carótida em vermelho. Estas estruturas estão localizadas atrás de seus olhos. Uma fístula carótido-cavernosa é a ligação entre a artéria e a veia, e nesta localização chama-se de fístula direta. As indiretas poderão ser discutidas em outro tópico. Uma fístula destas apresenta características clínicas próprias, como olho atrás da fístula quemótico (vermelho e inchado), paralisado e pulsando.

Observe abaixo uma fístula:

http://www.doereport.com/imagescooked/1898W.jpg
Observe a ligação entre a artéria e a veia.

Há outras causas mais raras de zumbido pulsátil, mas estas não serão discutidas aqui.

Outras causas comuns de zumbido tonal, não pulsátil, são doenças musculares do pescoço (cervicais), hérnias de disco cervicais (aqui, um exame neurológico bem feito pode mostrar esta causa), e mesmo quadros psíquicos, como depressão e ansiedade. Medicações utilizadas para outros fins podem causar zumbido, e o seu médico pode auxiliá-lo na identificação de alguma medicação que possa estar causando o quadro. 

Em resumo, zumbido é um sintoma que na maior parte das vezes causa desconforto que pode ser sério, mas que na imensa maioria das vezes é benigno, não constituindo doença grave. Na verdade, há pacientes que chegam ao consultório com história de anos de zumbido. 

Mas, como se diagnostica a causa do zumbido? Em boa parte dos pacientes, a causa não pode ser conhecida, pois o médico não a acha. Há exames que ajudam a tentar achar a causa, como exame de audição (audiometria tonal), tomografia ou ressonância magnética de crânio e exames de sangue. Colesterol elevado pode ser a causa em alguns pacientes.

Zumbidos pulsáteis, especialmente os objetivos, podem ser diagnosticados colocando-se o estetoscópio sobre o pescoço ou cabeça (área do ouvido) do paciente, podendo-se, assim, auscultar o zumbido, confirmando-o. 

Há tratamento? Sim! Há várias técnicas comportamentais e psicológicas para auxiliar o paciente a melhorar e conviver com o zumbido. Para causas específicas como as descritas acima, há tratamentos específicos, a serem discutidos pelos médicos que acompanham o paciente.

Por fim, zumbido pode levar a problemas de sono, baixa auto-estima, ansiedade e depressão, e uma ida ao médico o quanto antes (otorrinolaringologista e/ou neurologista), diagnóstico da causa, e início de uma terapia adaptada a cada paciente pode diminuir o ônus do problema sobre a qualidade de vida do paciente.