domingo, dezembro 01, 2013

Mecanismos de ação - Como age a aspirina na prevenção do derrame?

A aspirina, ou ácido acetilsalicílico, é uma medicação usada há mais de 100 anos (descoberta em 1829, quimicamente isolada em 1853 e comercialmente disponível a partir de 1899, alcançando popularidade durante a famosa epidemia de gripe espanhola após a Primeira Guerra Mundial - leia mais aqui). O seu uso na prevenção de derrames se iniciou entre as décadas de 60 e 80 do século passado. 

A aspirina além de um potente anti-inflamatório é, hoje, a droga mais comumente usada na prevenção de AVC's no mundo. Mas como a aspirina age? Antes de conhecermos o mecanismo de ação da aspirina, temos de entender como se forma uma placa de ateroma, que pode acabar produzindo o derrame. 

Abaixo, conheça uma célula de extrema importância e que mora no seu sangue, a plaqueta:

http://wehelpwhathurts.homestead.com/platelets.jpg
As plaquetas são as responsáveis por uma parte da cicatrização de feridas e da coagulação do sangue. Como você vê acima, as plaquetas são células especializadas que aderem, grudam-se, umas às outras formando redes nas regiões lesadas dos vasos sanguíneos, ativando-se e liberando substâncias que ativam mais plaquetas ao redor, chamando-as para fazer a primeira linha de reparação do vaso e hemostasia (hemostasia é a parada de um sangramento).

Fora isso, e com a ajuda de outras substâncias liberadas pelo próprio vaso danificado, há a formação de um coágulo, que é formado por uma proteína chamada fibrina (que é ativada, ou seja, posta para funcionar, através de uma via, da qual poderemos falar depois, a via de coagulação). A fibrina liga-se às plaquetas, reforçando o agregado plaquetário e prendendo este conjunto de plaquetas à parede do vaso, danificada. Com a cicatrização, há a remoção deste agregado de plaquetas e fibrina.

Observe abaixo o que disse em uma figura:

http://cnx.org/content/m44804/latest/Figure_40_02_04ab.jpg
Em (a), o megacariócito é a célula da qual derivam as plaquetas (platelets). Em (b), fibrin clot é o coágulo de fibrina, formando-se na parede do vaso rompida.

Muito bem, adiante.

As plaquetas são, logo, fundamentais para a reconstrução da parede danificada de um vaso, e logo, para evitar sangramentos. Por isso que quem toma aspirina ou outros antiagregantes plaquetários tem tanto sangramento da gengiva quando escova os dentes, ou pequenos sangramentos da pele (as equimoses) quando batem em algo, ou mesmo espontaneamente.

Outro protagonista importante na formação da placa de ateroma, a famosa placa de gordura que se forma na parede dos vasos, é o próprio revestimento dos vasos, o endotélio. Observe abaixo:

http://faculty.stcc.edu/AandP/AP/imagesAP2/bloodvessels/endothelia.jpg
Acima, há o endotélio do vaso, a parte mais interna do vaso e que fica em contato com o sangue. O endotélio é formado por várias células que funcionam como um órgão separado, produzindo várias substâncias, em especial o óxido nítrico, que mantém o diâmetro do vaso e permite a circulação do sangue. Um endotélio saudável significa um vaso saudável.

http://www.chelationhealthproducts.com/images/diagram-endothelium.jpg
À esquerda, vemos um vaso saudável como um endotélio saudável. À direita, um vaso danificado, com uma placa de ateroma, de colesterol, formando-se na superfície interna do vaso e estreitando a luz do vaso, impedindo a passagem de sangue.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/48/Carotid_Plaque.jpg/230px-Carotid_Plaque.jpg
Esta é uma placa de colesterol de verdade retirada de uma carótida que estava entupida. Feia, não?

Pois bem, há outro ator nesta comédia de erros. É o excesso de colesterol, mais especificamente o LDL, a Lipoproteína de Baixa Densidade ou colesterol ruim, que em excesso danifica o endotélio e se acumula na parede do vaso, provocando inflamação. Sim, inflamação. Inflamação esta que evolui ao longo dos anos, e que pode piorar com alguns adjuvantes a mais, como deficiência de vitaminas, cigarro (fumo!), pressão alta e diabetes descontrolado.

E qual é a célula que, atraída por várias substâncias inflamatórias produzidas no endotélio lesado, aumenta a placa e promove mais inflamação? A plaqueta, que vimos acima.

As plaquetas não aparecem no começo da formação da placa, como sugere um artigo publicado na famosa revista Circulation Research de 2002 (link). E mais, elas auxiliam na produção de uma proteína importante, a beta-amilóide 42, envolvida na doença de Alzheimer.

Fora isso, a relação entre as plaquetas e outras células inflamatórias encontradas nas placas de colesterol, como os macrófagos, acabam também por produzir radicais livres, que lesam ainda mais os vasos.

Logo, a plaqueta possui papel importante na manutenção da placa de ateroma e nos eventos isquêmicos (ou seja, nos derrames e nos infartos do coração), de modo que a inibição da agregação das plaquetas através de substância que se liguem a seus receptores diminuiria a frequência de doenças causadas pelas placas de colesterol.

Claro que os antiagregantes plaquetários, como a aspirina, mas também o clopidogrel e o cilostazol, não impedem tudo, pois como vimos, a presença das plaquetas ocorre quando a placa já está formada. Há a necessidade de evitar a formação da placa de colesterol através de hábitos saudáveis de vida, diminuir a inflamação vascular através de exercícios físicos, evitar o colesterol elevado através de dieta saudpavel, ou diminuir os níveis de colesterol, ou através de dieta, ou através do uso de estatinas, medicações utilizadas para este fim e que devem ser prescritas por médicos.

Por fim, não use aspirina ou qualquer antiagregante plaquetário sem orientação médica. Como toda medicação, a aspirina pode levar a sérios efeitos colaterais e mesmo alergias, e somente o médico ciente do seu problema tem a capacidade de julgar a necessidade do uso da medicação.

sábado, novembro 30, 2013

Sorteio do livro Ausência

O sorteio do livro Ausência produziu a seguinte ganhadora:

Professora Cristiane Cassaniga.

Parabéns, Cristiane.

Mande seu endereço para o e-mail sekeff@hotmail.com.

Mandaremos o livro essa semana, e o frete é por nossa conta.

quarta-feira, novembro 13, 2013

Mais sobre a substância cinzenta cerebral

Além do que já foi discutido no post anterior sobre o córtex cerebral, há no cérebro ilhas de neurônios, cuja função é filtrar tudo o que entra de informação no cérebro (odores, gosto, tato, sons, visão) antes de encaminhar as informações ao córtex cerebral para análise mais aprofundada, e refinar os movimentos produzidos no córtex cerebral, de forma que consigamos realizar movimentos grosseiros e finos com total harmonia e delicadeza.

Estas ilhas de neurônios são os núcleos cerebrais e de tronco cerebral.

Há vários destes núcleos, de forma que a substância cinzenta cerebral não está somente cobrindo a substância branca, mas se encontra dentro dela também.

Os principais núcleos são:

Os núcleos da base - Putâmen, caudato, globo pálido, substância negra, núcleo subtalâmico (leia mais sobre eles aqui).

O tálamo (leia mais sobre ele aqui).

O hipotálamo (leia mais sobre ele aqui).

Os núcleos do tronco cerebral - Aqui há vários agrupamentos nucleares de neurônios dentro do tronco cerebral, cujas funções são as mais diversas, dentre movimentação dos olhos, controle da respiração, do ato de engolir, da movimentação da língua e da boca, da sensibilidade espacial (localizar-se no espaço com os olhos fechados), da sensibilidade da face, entre outras funções.

Veja abaixo:

http://bradyonthebrain.files.wordpress.com/2013/10/cranial-nerve-nuclei-in-brainstem-schema-2.jpg
Acima você vê os nervos cranianos motores (em vermelho) e sensitivos (em azul) com seus núcleos (as expansões dos nervos dentro do tronco cerebral).

http://bedahunmuh.files.wordpress.com/2010/05/cranial-nerve-nuclei-in-brainstem-schema-1.jpg
Acima, a mesma figura vista de lado.

Há vários outros núcleos no tronco cerebral, dos quais falaremos após. 

E há os núcleos do cerebelo, claro:

http://kin450-neurophysiology.wikispaces.com/file/view/19.1.jpg/140453055/411x326/19.1.jpg
Acima, uma visão do tronco cerebral e do cerebelo por trás. Os núcleos cerebelares estão à esquerda, em roxo (núcleo fastigial, emboliforme e globoso (juntos foram o núcleo interpósito) e o núcleo denteado).

O córtex cerebral

A porção mais externa do cérebro, e que o envolve como uma malha, chama-se de cóirtex cerebral. A palavra córtex vem do latim cortex, que quer dizer "casca ou carapaça" (leia aqui).

O córtex é também chamado de substância cinzenta, por conta da cor meio marrom-acinzentada que ele apresenta nas preparações cerebrais (veja abaixo).

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0c/Human_brain_right_dissected_lateral_view_description.JPG
Observe que a substância branca (a parte interna do cérebro) é toda coberta por uma capa que é facilmente distinguível, a substância cinzenta ou córtex cerebral. Apesar de possuir milímetros de espessura, o córtex cerebral possui 6 camadas entremeadas de neurônios e de fibras (axônios e dendritos), que ora saem destes neurônios para outras áreas do córtex e estruturas mais profundas do cérebro, ora chegam de várias regiões cerebrais a estes neurônios.

Observe as duas figuras abaixo, que mostram o seu córtex cerebral visto ao microscópio. 


http://thebrain.mcgill.ca/flash/d/d_02/d_02_cl/d_02_cl_vis/d_02_cl_vis_3a.jpg
http://chronopause.com/i293.photobucket.com/albums/mm55/mikedarwin1967/Feline-62a.png

Observe a quantidade de células e de fibras que sobem, descem e correm paralelamente à superfície do cérebro. São bilhões de fibras e células neuronais, associadas a células gliais de suporte e manuntenção da eletricidade cerebral, que juntas realizam toda a transmissão cerebral elétrica.

O córtex cerebral é completo, desenvolvido, e permite a integração entre várias regiões cerebrais distintas e a integração entre o próprio córtex e os núcleos de substância cinzenta existentes na profundidade do cérebro, o cerebelo e a medula espinhal.

Sem esta malha altamente intricada de fibras e células, nunca conseguiríamos o avanço científico, tecnológico, de linguagem e social que possuímos hoje.

Estudos demonstram que os animais mais próximos de nós, como macacos e outros animais como cachorros, porcos e gatos, possuem também córtices (esse é o plural de córtex) com 6 camadas, semelhantes ao nosso. 

A diferença é que nosso cérebro é disposto em inúmeras colunas de células ao longo das camadas, em número muito maior que nos outros animais. Ou seja, células que pertencem a camadas diferentes conectam-se entre si verticalmentem, formando colunas que servem para ações específicas dentro de uma região cortical. Há colunas celulares que são ativadas pela visão de linhas e bordas, outras são ativadas pela cor, outras que são ativadas pela visão de movimento, e assim vai, ao longo do córtex cerebral, de tal forma que uma função é trabalhada em partes, ao longo de várias camadas celulares, em várias colunas, tornando a análise e percepção do estímulo mais completos e complexos. 

Observe abaixo:

http://www.fizyka.umk.pl/~duch/ref/00/00-how-brain/column.gif
A figura acima, que demonstra a conexão e a passagem de estímulo entre várias células, demonstra à esquerda três colunas de células corticais. As colunas possuem, cada uma, as 6 camadas corticais, mas separam-se através de minúsculos espaços. As colunas são interconectadas entre si, permitindo a células que respondem a um estímulo conectar-se com células nas proximidades ou à distância que respondem a outros estímulos, de modo a tornar a percepção de estímulos algo bastante completo.

Ou seja, seu cérebro é todo conectado, tanto de cima para baixo e de baixo para cima, como de frente para trás e entre os lados. 

segunda-feira, novembro 04, 2013

Por que ocorrem as crises epilépticas? - Uma visão direcionada ao leigo.

Vamos tenta tornar o complexo simples.

Nosso cérebro, como todo o nosso corpo, funciona através de correntes elétricas minúsculas (cujas voltagens são medidas não em Volts, mas em miliVolts, que são 1 Volt dividido por 1000) produzidas por trocas de íons, átomos eletrificados. Os dois íons (átomos eletricamente carregados) relacionados à produção de energia elétrica na célula são os sódio (Na) e o potássio (K), que são íons positivos (cátions), ou seja, que necessitam de um elétron para alcançar a neutralidade elétrica. Outros dois íons são importantes, o cálcio (Ca) e o cloro (Cl). O cálcio é um íon positivo que necessita de dois elétrons para sua neutralidade, e o cloro é um íon negativo, ou um ânion, que necessita doar um elétron para alcançar a neutralidade elétrica.

Nas células, o potássio existe em maior quantidade do que o sódio, que abunda nos espaços entre as células (extracelulares). Da mesma forma, o cálcio e o cloro são mais importantes fora do que dentro da célula. Nas células, ocorrem alterações de trocas entre o sódio e o potássio que não chegam a produzir uma corrente elétrica (o sódio entra e o potássio sai da célula, mantendo assim o potencial, a diferença de carga entre o dentro e o fora da célula, que é de - 70 mV, ou seja, a célula é negativa em relação ao meio onde ela está). No entanto, quando estas trocas de íons são grandes o suficiente, há a produção de um potencial de ação, que é justamente a maneira como as células em várias regiões do corpo se comunicam e trocam substâncias entre si (leia mais sobre o potencial de ação aqui).

Um neurônio é uma célula ultraespecializada em conduzir estímulos elétricos (potencial de ação) através de suas ramificações (dendritos e axônios - leia mais sobre isso aqui). E há vários tipos de neurônios, que produzem e transmitem várias tipos de substâncias que agem em vários locais diferentes.

Como já falado em post sobre as sinapses neste blog, os neurônios se comunicam através destas pela abertura/fechamento e estimulação de proteínas localizadas nas membranas celulares, os receptores. Vários receptores existem, e cada um deles sofre alteração por contato e ligação com substâncias chamadas de neurotransmissores.

Da mesma forma, há centenas de neurotransmissores diferentes, mas os mais importantes são:

1. Dopamina
2. Acetilcolina
3. Serotonina
4. Noradrenalina
5. Substância P
6. Encefalinas
7. Ácido gama-aminobutírico (GABA)
8. Glutamato
9. Glicina

Há vários outros neurotransmissores. Alguns destes inibem a ação dos neurônios onde agem (neurotransmissores inibitórios, como a glicina e o GABA) e outros estimulam os neurônios (os neurotransmissores excitatórios, sendo o mais comum o glutamato).

Os neurônios GABAérgicos (que contêm GABA) são assim didaticamente chamados de inibitórios, e os que contêm glutamato (glutamatérgicos) de excitatórios.

Muito bem, entendendo até aqui? Vamos continuar.

Como falei antes, os neurônios comunicam-se através de impulsos elétricos, cuja duração, tamanho, sequência de estímulos, e outros fatores, determinam o tipo de informação que está sendo carreada. Os neurônios formam malhas neuronais, agrupamentos de células unidas através de sinpases, e cada neurônio pode fazer centenas a milhares de sinapses com outros neurônios próximos. E cada neurônio comunica-se através de um tipo de neurotransmissor, o que indica que em uma malha, há neurônios inibitórios, excitatórios e neurônios que modulam as descargas de outros neurônios.

Os neurônios não se comunicam de forma aleatória. Na verdade, as malhas neuronais possuem um fim, ou seja, a estimulação, ou inibição, de uma via inicial leva a ativação, ou inibição, de neurônios em várias camadas, cuja função é estimular, ou inibir, uma via neuronal final levando a uma ação que pode ser motora (levar um copo à boca, por exemplo), sensitiva (sentir um odor de uma flor, por exemplo), visual (correlacionar imagens com conhecimentos prévios, como exemplo), comportamental (o ato de dormir, como um bom exemplo), cognitiva (pensar, memorizar, raciocinar, e outros atos cognitivos) e outras ações.

Abaixo, uma malha neuronal ligando várias áreas cerebrais em prol de uma ação específica:

http://www.neuroscience.cam.ac.uk/uploadedFiles/mg03_phpGBaO4B.JPG
Entendendo até agora? Podemos manter o barco navegando? Vamos lá.

Além dos neurônios, outras células podem agir no meio celular eletrificado do cérebro. Estas células são as células gliais, mais especificamente os astrócitos, células que possuem várias funções, como suporte nutricional e de defesa neuronal, controle de entrada de substância no cérebro através da barreira hematoencefálica, controle da carga elétrica neuronal, e outras várias funções essenciais, e sem as quais não haveria funcionamento cerebral adequado.

Os níveis de cálcio, potássio e sódio dentro e fora dos neurônios, e dentro e fora das células gliais, é mantido às custas de mecanismos incrivelmente arranjados de forma a propiciar um equilíbrio elétrico celular e uma homeostase (equilíbrio) perfeita. Estes íons (átomos eletricamente carregados) são trocados de forma a manter a atividade neuronal oscilando (sim, a atividade neuronal não é estática, mesmo no sono, mas oscila entre estados ativado, despolarizado, e inativado, repolarizado a hiperpolarizado; leia sobre o potencial de ação, e você entenderá o que estou falando). A função elétrica das células da glia é manter a funcionalidade dos neurônios, através da modulação de sua excitabilidade (deixar o neurônio mais ou menos excitável).

http://cnx.org/content/m47417/latest/Figure_33_02_13.jpg
Acima, um astrócito ligado a um neurônio.

http://esciencenews.com/files/images/201009203716190.jpg

Acima, a demonstração da atividade oscilatória cerebral.

Antes, até há alguns anos, pensava-se que as crises epilépticas eram causadas por um aumento das respostas excitatórias neuronais, e uma falta de neurônios inibitórios, uma visão bastante simplista da realidade.

Na realidade, o problema é bem diferente desta visão minimalista.

Pensemos o cérebro como um meio cheio de neurônios eletricamente carregados, trocando sódio, potássio, cálcio e cloro com o meio externo; células gliais, desesperadas tentanto diminuir as concentrações de cálcio e potássio do meio em que ficam os neurônios para evitar instabilidades elétricas; e os próprios íons, cálcio, potássio, sódio e cloro, sendo trocados de forma passiva e ativa.

Alterações nas concentrações de potássio, e possivelmente cálcio, dentro e fora da célula, desencadearia correntes de oscilações (que, em última análise, seriam as próprias crises) que se espalhariam pelo córtex de forma sincrônica, algo bastante comum em crises epilépticas, e este espraiamento ocorreria não através dos próprios neurônios, mas através das células de suporte, as células da glia, que tamponam, ou seja, acumulam em si os excessos de íons (especialmente o potássio) ao redor dos neurônios. Ou seja, a propagação de uma crise em um local (focal) para outro, e logo para todo o cérebro (generalização) não ocorreria, provavelmente, através de sinapses, mas através de junções elétricas entre as células da glia, as chamadas gap junctions, por onde o espraiamento elétrico é mais fácil e rápido.

http://www.biochemj.org/csb/007/Fig7_astrocyte_structurea.jpg
Nesta linda figura acima, vê-se dois astróscitos unidos pelas gap junctions, fazendo suporte a duas sinapses entre três neurônios, e mantendo o equilíbrio de potássio (K+) no meio extra celular e dentro dos vasos (blood vessels).

A atividade epiléptica é tóxica para os neurônios, e esta leva à liberação de neurotransmissores excitatórios, principalmente o glutamato, levando a maior concentração de cálcio e mais ativação neuronal, alimentando um círculo vicioso que deverá ser parado, em última análise, pela função das células da glia, que tentarão "limpar o ambiente".

Mas como as células gliais entram neste estado de função alterada, podendo auxiliar no desencadear de crises epilépticas?  A propagação e generalização das crises relacionapse com a desregulação do potássio extraneuronal. Já as crises em si podem ocorrer a partir da abertura da barreira hematoencefálica (a barreira formada pelos astrócitos, e que impediria a entrada de qualquer molécula ou substância no cérebro), o que levaria a uma cascata de eventos começando pela ativação dos astrócitos, alteração dos receptores de potássio nos astrócitos, dificultando as correntes de correção de potássio do meio extracelular, e prejuízo da contenção deste excesso de potássio, levando à formação de oscilações que se propagariam entre os neurônios e astrócitos ao redor, ou seja, a um foco epiléptico, que pode ou não se generalizar.

Este é o conhecimento atual simplificado, retirado do livro Oxford Textbook of Epilepsy and Epileptic Seizures, de Shorvon e colaboradores, publicado pela editora Oxford, em 2013.

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terça-feira, outubro 29, 2013

Dia Mundial de Prevenção do AVC

Hoje, dia 29 de outubro, lembramos as inúmeras vítimas que sofrem anualmente com os derrames, os famosos AVC's, em todo o mundo. O sofrimento da perda de força de um lado do corpo, da sensação de dormência ou perda de sensibilidade, do desequilíbrio, das alterações de fala, ou mesmo da perda da linguagem. 

Sintomas que poderiam ser evitados em sua grande maioria se houvesse uma conscientização maior, se a população soubesse quais os meios de prevenção do AVC, e como reconhecer um AVC para um socorro imediato. 

O AVC, ou Acidente Vascular Cerebral, é uma lesão cerebral causada pela perda de sangue em uma região do cérebro pela obstrução de um vaso, ou o extravasamento de sangue para dentro do tecido cerebral pela ruptura de um vaso. A maior parte dos casos poderia ser facilmente prevenida, caso um programa de controle de fatores de risco e conscientização existisse e fosse seguido à risca.

Os fatores de risco que podem levar a um AVC são:

1. Pressão alta não controlada
2. Diabetes
3. Colesterol elevado
4. Tabagismo
5. Etilismo
6. Obesidade
7. Vida sedentária

Há outros fatores menos comuns, e mais difíceis de controlar, como idade, genética e presença de lesões cerebrais como malformações dos vasos da cabeça. Mas estes casos são mais raros.

A cada ano, as pessoas afetadas por um AVC o são em idade mais precoce, por conta dos vários fatores de risco já estarem presentes antes dos 40 anos. Antes considerado doença de pacientes mais idosos, os AVC's estão cada vez mais presentes em pacientes jovens, e suas sequelas, quando não a morte, podem ser notados com frequência nas ruas de nossas cidades e nos nossos hospitais. 

Cuide-se, faça um bem a si próprio e à sua saúde, ajude a prevenir o AVC. A conscientizaão começa pelo conhecimento. 

O conhecimento deve ser adquirido em consultas médicas, através de checkups periódicos, em sites de confiança (como da Academia Brasileira de Neurologia (link) e da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares (link)), e no blog Neuroinformação. 

No site da Rede Brasil AVC (link), você aprende mais sobre os sinais de alerta (como identificar) de um AVC, e lê mais coisas a respeito desta doença catastrófica, que causa sequelas por vezes graves, e que pode mesmo levar à morte. E que está ceifando vidas e a saúde de milhares de brasileiros por ano.

Abaixo, fotos do mutirão do AVC do qual participei, hoje, no metrô Sé, e gentilmente cedidas pela agência Burson-Marsteller Brasil, e autorizadas para publicação. 




segunda-feira, outubro 28, 2013

Sobre o cérebro e suas conexões



O cérebro humano alcançou um desenvolvimento ímpar na natureza. A capacidade única de decidir pela própria vida sem depender dos instintos e de pistas da natureza, além da linguagem verbal, são o que nos distingue dos outros animais. 

Paralelo a estas conquistas da evolução, possuímos uma malha neuronal intrincada e complexa, que une várias regiões cerebrais e é capaz de relacionar de forma elegante e duradoura sensações tão díspares como odores, toques, visões e sons. Os traços cerebrais gerados a partir destas sensações externas unem-se ao prazer, à alegria, ao medo, à dor, formando memórias que, mais do que servindo como uma forma de preservar nossa vida, como deveria ser no passado mais remoto, nos fornecem uma história, algo que entre os animais, pelo menos conscientemente, somente o ser humano possui. 

Os tipos de células que abundam no sistema nervoso é imenso, entre neurônios (cerca de 10 mil tipos entre neurônios sensitivos, motores e interneurônios, que realizam a conexão entre neurônios, modulando seus estímulos, segundo o site http://www.mind.ilstu.edu/curriculum/neurons_intro/neurons_intro.php) e células de suporte (os astrócitos), de mielinização neuronal (os oligodendrócitos no sistema nervoso central e as células de Schwann no sistema nervoso periférico) e de defesa (a micróglia). 

Maior ainda, e principalmente o motivo da grande diversidade de informações que pode ser trocada entre as várias regiões cerebrais, são as sinapses, as conexões entre neurônios, presentes em todos os organismos que possuem malhas neuronais. Sinapses são entidades biológicas complexas, variadas e incrivelmente organizadas. Um único neurônio pode fazer centenas a milhares de sinapses com vários outros neurônios ao seu redor. De acordo com um estudo publicado na revista Cerebral Cortex em 1999 (http://cercor.oxfordjournals.org/content/9/7/722.full.pdf+html), DeFelipe e colaboradores estimaram o número de sinapses como cerca de 1,508,000,000 a 1,626,000,000 (isso mesmo, chega à casa dos bilhões) em cada milímetro cúbico (mm³) de volume cerebral. Levando-se em conta que o cérebro humano adulto possui volume médio de 1400 ml, ou 1,400,000 mm³, podemos ter mais de 2 quatrilhões de sinapses (isso em um único cérebro) (http://faculty.washington.edu/chudler/facts.html). Lembre-se de que temos cerca de 300 bilhões de estrelas em nossa galáxia. Logo, somente em seu cérebro, há mais sinapses que estrelas no céu, e seu cérebro ainda ganha de disparada. E levando-se em conta que temos cerca de 100 bilhões de neurônios em um único cérebro, cada neurônios faria, em média, 2,300,000 sinapses. 

Além do cérebro, o sistema nervoso conta com estruturas de apoio, que comunicam a grande rede neuronal cerebral com o meio ambiente. Através de suas ramificações, o cérebro lê, com extraordinária exatidão, e interpreta os mais variados tipos de estímulos, e reage a eles e/ou lhes dá a carga emocional necessária. As estruturas que servem como a ligação do cérebro com o meio são a medula espinhal e os nervos, além dos órgãos dos sentidos. O modo de comunicação entre estas estruturas e o cérebro baseia-se na mesma forma de comunicação entre os inúmeros neurônios cerebrais, estímulos elétricos, modulados, intervalados, aumentados ou diminuídos, de forma a propagar a informação de forma fidedigna. 

Não é surpresa, pois, considerar o cérebro a última fronteira do conhecimento humano sobre si próprio. Não que saibamos tudo sobre o resto de nosso corpo, muito pelo contrário. Mas a imponência do cérebro associada à sua aparente intangibilidade nos remete aos segredos mais bem guardados, ao El Dorado tão almejado pelos conquistadores, ao oceano mais distante e mais belo.

E tudo isso, toda essa complexidade, toda essa rede extensa e maravilhosamente organizada de células que se intercomunicam de forma orquestrada, toda essa rede sináptica que soma números estratosféricos, existe aí dentro de sua cabeça.

sexta-feira, outubro 25, 2013

Bem vindo ao Blog Neuroinformação

Você acessou o blog Neuroinformação. 


Este blog destina-se a disseminar o conhecimento neurológico de forma leiga, aberta e segura, com informações confiáveis escritas por profissionais médicos e não médicos conhecedores de suas área de atuação.

Estamos chegando a 1 milhão de visualizações no blog, o que nos deixa muito felizes e confiantes no sucesso do blog. 

Há mais por vir, e por isso mantenha-se ligado, pois o blog Neuroinformação continuará atualizado para oferecer a você a melhor informação em neurologia voltada ao público leigo. 

quarta-feira, outubro 16, 2013

Síndrome de Sturge-Weber

Esta, tal como a doença de von Recklinghausen (ou neurofibromatose tipo 1) é uma facomatose, ou seja, uma doença que combina sintomas e sinais da pele e do sistema nervoso. Conforma já falado em post sobre a síndrome de West, a pele e o sistema nervoso se desenvolvem do mesmo tecido embrionário. Logo, malformações de uma podem levar a alterações da outra.

A síndrome de Sturge-Weber (SSW) foi descrita em 1860 pela primeira vez por Schirmer, e posteriormente em 1879 por William Allen Sturge, médico e arquéologo inglês. Frederick Parkes Weber, dermatologista inglês deu sua contribuição ao entendimento desta doença em 1922.

A característica mais famosa da doença são as malformações de capilares (pequenos vasos) da face, geralmente em um lado só, mas que pode acometer os dois lados em menos de 1/3 dos pacientes, e que pode assumir as mais variadas formas e tamanhos, muitas vezes somente tingindo a face de roxo, mas em outras causando deformações faciais (veja abaixo).

http://www.cmaj.ca/content/170/11/1672/F2.large.jpg

http://kotiro.petermichaud.com/wp-content/uploads/2009/09/122sturge_weber.jpeg

http://www.childfoundation.com/kids/Mariceli%20Diaz%20Marrero/Mariceli-profile.jpg
Em termos cerebrais, há malformações que podem ser dos dois lados (bilaterais) em 25% dos pacientes com lesões dos dois lados da face. Uma complicação grave e que precisa ser diagnosticada precocemente nestes pacientes é o glaucoma, ou aumento da pressão dos olhos, e que pode ocorrer em quase metade dos pacientes.

O diagnóstico pode ser feito ao nascimento, pois as manchas ou lesões cutâneas já são visíveis nesta época. Mas para termos o diagnóstico de SSW, é necessário haver conjuntamente lesões cerebrais ou oculares (se somente a lesão cutânea se apresentar, sem outras anormalidades, podemos estar diante de um angioma, tumor vascular benigno, simples, sem complicações). 

Aliás, estas "manchas" da pele podem acometer também a região da boca, por dentro e por fora, além do pescoço, tronco, membros, língua, gengiva, laringe, faringe e nariz. A cor da lesão pode aparecer menos viva ao nascimento, mas pode ficar cada vez mais escura com o passar da idade da criança.

Em 60% dos pacientes, a face pode aumentar do lado da lesão, podendo haver alterações dos ossos da face em alguns pacientes. As lesões de pele podem faltar na SSW em menos de 1/5 dos pacientes, sendo que estes pacientes são diagnosticados por médicos experientes com o uso de exames de imagem (tomografia ou ressonância).

Os sintomas neurológicos mais comuns são as crises epilépticas, além de retardo variável de desenvolvimento mental em alguns pacientes, além de dores de cabeça. Três quartos das crises aparecem já no primeiro ano de vida (podem começar como síndrome de West, como já visto em post anterior). Alterações motoras de braços e pernas podem ocorrer em alguns pacientes, além de problemas visuais cerebrais.

A causa da doença é desconhecida, e não se conhece modos de herança genética.

As alterações cerebrais assumem a forma de malformações, defeitos do desenvolvimento cortical, além de deposições anormais de cálcio no cérebro (calcificações), e principalmente alterações dos vasos cerebrais com diminuição do calibre dos vasos e da vascularização de certas regiões, o que pode se responsabilizar por algumas crises epilépticas.

De todas as síndromes neurocutâneas (que afetam a pele e o sistema nervoso), a SSW é a quarta mais comum no mundo (as mais frequentes são a Neurofibromatose tipo 1, a esclerose tuberosa ou doença de Bourneville, e a hipomelanose de Ito). Ocorre em cerca de 1 pessoa para cada 22,000 nascidos.

O diagnóstico é  clínco, através das lesões de pele, e radiológico, com o diagnóstico das calcificações cerebrais, além de malformações cerebrais e alteraçõe vasculares cerebrais que podem ocorrer em alguns pacientes.

http://www.medlink.com/images/acsw5.jpg
Acima uma calcificação cerebral típica de SSW, vista em tomografia de crãnio (as calcificações são estas manchas esbranquiçadas brilhantes logo abaixo do osso).

O tratamento baseia-se no tratamento das crises epilépticas, controle de fatores de risco vasculares mesmo em crianças (algo que deve ser discutido com o neuropediatra ou neurologista que acompanha o paciente), evitar complicações clínicas, como anemia ou desidratação, manter uma vida saudável, com boa alimentação e sono normal. Outras formas de tratamento das lesões cerebrais devem ser discutidas com o médico que assiste a criança ou o paciente.

Avaliaçõe softalmológicas devem ser solicitadas, para afastar glaucoma. As lesões de pele podem ser tratadas, de acordo com a avaliação de dermatologista especialista.

quarta-feira, outubro 09, 2013

Memória e seu tipos

A memória é uma função cortical superior, ou seja, é trabalhada, codificada e decodificada em nível do córtex cerebral. É também a função cortical primeiramente e mais afetada em algumas formas de demência, como a doença de Alzheimer.

Mas em termos práticos, quais as formas de memória?

Vamos fazer uma breve abordagem deste assunto:

1. A memória operacional ou memória de trabalho:

Esta função cortical é dependente de uma estrutura cerebral chamada de lobo frontal, a porção mais anterior do cérebro, e que cuida de nossas funções executivas (leia mais aqui). A memória operacional refere-se ao armazenamento de informações que serão mantidas na consciência somente temporariamente, necessárias para a realização de uma tarefa específica, como o lembrar números de telefone ou o nome de alguém antes de uma reunião. É uma memória manipulável, ou seja, ficamos com as informações na cabeça pelo tempo necessário para os fins que a tarefa exige.

2. Memória imediata:

Ou memória de registro, refere-se ao armazenamento de curto prazo, por somente alguns segundos. Não é manipulável, ou seja, diferente da memória operacional, não ficamos o tempo todo com as informações sendo memorizadas, e assim é suscetível a interferência externa (ou seja, qualquer coisa que nos chame a atenção pode prejudicar a memorização). É como se eu pedisse ao leitor que repetisse uma lista de palavras ou objetos, e depois de uma tarefa de distração (calcular ou soletrar palavras), solicitasse que a lista fosse relembrada. Em geral, esta é uma memória de baixa capacidade, podendo pessoas normas lembrar-se de somente 6 ou 7 dígitos de um número. Pode estar prejudicada na doença de Alzheimer.

3. Memória recente

É a memória testada solicitando-se à pessoa que lembre 3 itens apresentados após 3 minutos de distração (alguma tarefa que tire a atenção sobre os itens memorizados). Ou seja, é a memória para fatos de ocorrência recente. Seu prejuízo, tipico na doença de Alzheimer e em uma doença chamada de amnésia global transitória (falaremos dela em posts ulteriores), leva à incapacidade de aprender novas informações e recordá-las após alguns minutos.

4. Memória remota

Ou memória de longo prazo, é aquela relacionada a fatos e acontecimentos do passado distante. Em geral, é afetada tardiamente nas demências (por isso que observamos que nossos parentes com doença de Alzheimer lembram do que faziam na infância, mas não se lembram do que comeram aquele dia). Esta memória, devido ao tempo de existência e suas ligações com várias outras regiões cerebrais, fica armazenada de forma difusa no cérebro. 


quinta-feira, outubro 03, 2013

O neurônio

O neurônio é a célula principal do sistema nervoso. Existentes em todo o sistema nervoso, há mais de 100 tipos de neurônios dispersos pelo cérebro, medula, tronco cerebral e nervos periféricos e autonômicos. Sua função é a propagação da informação através de minúsculas correntes elétricas que percorrem o sistema nervoso, e passam de um neurônio ao outro através de suas conexões, as sinapses. 

O neurônio, como célula, possui um citoplasma (a substância que preenche o corpo celular) e um núcleo, além de DNA, o seu material genético. Mas o neurônio possui algo que as outras células não possuem, ramificações, os dendritos e os axônios. 

Observe um neurônio abaixo:

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a9/Complete_neuron_cell_diagram_en.svg
O neurônio possui os dendritos, ramificações pequenas e múltiplas, mas que são cheias de canais por onde passam os íons de sódio e potássio responsáveis pela produção do potencial de ação, a maneira como os neurônios se comunicam. Já o axônio, único, sendo a terminação maior do neurônio, possui uma camada de proteção (em azul à direita do desenho) chamada de bainha de mielina, cuja função é evitar que a informação corra pelo axônio sem se dispersar, além de fazer com que o potencial de ação corra depressa (através de um mecanismo chamado e condução saltatória) (leia mais sobre isso aqui).

As conexões entre os neurônios, as sinapses (representadas no círculo da parte superior da figura), são a maneira como os neurônios se comunicam, através da liberação de substâncias (íons) que estimulam novos potenciais de ação, ou através da ação de proteínas que levam à célula do outro lado da sinapse realizar uma ação. 

O núcleo neuronal é como qualquer outro de uma célula de mamífero. Ao mesmo tempo, o neurônio possui todo um aparato que lhe possibilita produzir proteínas, transferi-las de local em local dentro do neurônio, liberar e armazenar elementos, como o cálcio, metabolizar proteínas inúteis e produzir energia. São estes elementos o retículo endoplasmático, o complexo de Golgi, os lisossomos, e as mitocôndrias, organelas que existem em várias outras células além dos neurônios.

Observe agora alguns tipos de neurônios:

http://www.mind.ilstu.edu/curriculum/neurons_intro/imgs/neuron_types.gif
Estes são somente alguns dos vários tipos de neurônios que existem no corpo.

E o que é uma sinapse?

Leia sobre ela aqui.

segunda-feira, setembro 23, 2013

Neurofibromatose tipo 1 ou doença de von Recklinghausen

A neurofibromatose tipo 1 (NFT1) é uma doença genética, sendo uma das doenças genéticas humanas mais frequentes. Caracteriza-se pela presenças de massas da pele, os neurofibromas, manchas no corpo, nódulos na íris e uma tendência ao desenvolvimento de tumores do sistema nervoso.

A doença é conhecida desde o século II, já na Grécia antiga. No entanto, os relatos científicos começaram a aparecer somente no século XVIII, sendo que a doença foi devidamente descrita em 1882, por Friedrich von Recklinghausen. Posteriormente, outros médicos e cientistas adicionaram suas observações à doença. A base familiar da doença foi descoberta pelo pai da patologia, Rudolph Virchow em 1847, e a base genética foi reconhecida e descrita em 1950, e seus genes descritos em 1987 e em 1990. A doença veio ao público com o famoso filme sobre a vida de Joseph Merrick, o "homem elefante", que apesar de possuir algumas características da doença, na verdade possuía a síndrome de Proteus (leia mais sobre isso aqui) e conheça mais sobre Joseph Merrick aqui.

As manifestações da doença são:

1. Manchas "café-au-lait" ou café com leite, sendo que mais de seis destas podem ser achadas em pacientes com esta doença, na figura abaixo identificadas com as setas pretas. 

http://www.spenzieri.com.br/wp-content/uploads/2011/12/Manchas-Cafe-com-leite.jpg


2. Neurofibromas, que dão o nome à doença e são tumores de bainhas nervosas (dos nervos periféricos) da pele, e que podem ser de dois tipos, nodulares e plexiformes (cuja distinção é melhor feita através de biópsia). Abaixo um caso simples de neurofibromas, e logo após um caso extremo da doença.


http://portalcodgdh.min-saude.pt/images/0/02/Neurofibromatose_dorsal.jpg


http://blogpop.com.br/wp-content/uploads/2011/02/Neurofibromatose-03.jpg
3. Nódulos de Lisch, nódulos (pequenos tumores, na verdade) localizados na íris do olho (vistos através do exame oftalmológico).

http://www.ctv.es/USERS/tortosa/endoneurocirugia/lishl.jpg
4. Sardas axilares 

http://www.oculist.net/downaton502/prof/ebook/duanes/graphics/figures/v5/0360/002f.jpg
Para o diagnóstico da NFT1, é necessária uma combinação de achados destes sinais. 

Outros sinais que podem ser vistos nos pacientes são alterações ósseas, especialmente dos ossos do crânio, aumento do tamanho da cabeça (macrocefalia) em cerca de 45% ou menos dos pacientes com NFT1, e baixa estatura, que ocorre em cerca de 1/3 dos pacientes. 

A doença pode vir acompanhada de tumores, sendo o mais comum deles o glioma de nervo óptico, um tumor benigno do nervo que nos permite ver o mundo, o nervo óptico.

http://telemedicine.orbis.org/data/1/rec_imgs/12353_Slide54.JPG
Acima uma combinação de imagem do paciente, mancha café com leite, e glioma do nervo óptico em ressonância do crânio. 

A doença NFT1 é rara, ocorrendo em 1 a cada 4500 a 7000 pessoas. 

O diagnóstico é clínico, através dos critérios usados para ele. O diagnóstico genético pode ser feito (há vários laboratórios de genética disponíveis no Brasil para isso) a depender do médico que assiste o paciente. A solicitação de exames deve ser discutida com o médico que assiste o paciente, mas na vigência dos critérios da doença, exames podem ser desnecessários.

O tratamento deve ser individualizado para as necessidades de cada paciente, e deve ser discutido com o médico que assiste o paciente.