sexta-feira, fevereiro 15, 2013

O cérebro dói?

Não, o cérebro não dói. O cérebro não possui terminações nervosas de dor, e assim é possível fazer cirurgias intra-cerebrais com o paciente acordado (como é o caso das cirurgias de colocação de marcapasso cerebral para doença de Parkinson).

Mas então, o que dói na cabeça?

Doem os nervos que saem do cérebro e nele entram, dói a membrana que envolve os ossos do crânio (periósteo, que aliás é a membrana que envolve qualquer osso do corpo), doem os vasos (tanto veias com artérias) que entram e saem do cérebro, respectivamente. Doem os músculos e suas membranas, as articulações dos ossos da coluna e seus ligamentos. Doem a pele e o tecido embaixo dela. Doem as estruturas ao redor, como dentes, mucosa da boca. 

Então, agora você sabe que o cérebro não dói. 

Mas de onde vem aquela dor de cabeça? Não é do cérebro?

Sim, mas não exatamente dor do cérebro. 

Se o cérebro doesse, teríamos dor por lesão cerebral, o que caracterizaria o que chamamos de dor nociceptiva, causada por lesão aguda ou subaguda, como é o caso de uma queimadura, um trauma ou um corte. Este tipo de dor o cérebro não apresenta. No caso das dores de cabeça de origem cerebral (pois temos dor de origem na coluna, nos dentes, nos seios da face, na garganta, nos músculos, etc) temos, na realidade, uma dor dita neuropática, por lesão e modificação (plasticidade) do sistema nervoso, como é o caso da dor da neuropatia diabética, da dor em coto de amputação, ou da dor na neuralgia pós-herpética. É dor produzida por estruturas cerebrais mas que nada tem a ver com lesão, já que a lesão, se é que existiu (e muitas vezes não há lesão identificável), já aconteceu há algum tempo, e a dor se mantém por alterações plásticas dos neurônios e vias cerebrais e medulares. 

No caso da enxaqueca, que é uma dor neuropática, houve lesão em algum momento? Não! Mas por que dói? Por conta da liberação de substâncias, e por conta de alterações em vias neuronais, com a produção de dor espontânea ou após algum gatilho, como estresse, menstruação, falta de sono ou jejum prolongado. 





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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista