sexta-feira, maio 03, 2013

O que é a estimulação magnética transcraniana


A estimulação magnética transcraniana (ou TMS, para a sigla em inglês) envolve a estimulação superficial, não invasiva, do cérebro através de corrente elétrica gerando pulsos magnéticos. 

Não é exatamente um método novo, e pedras magnetizadas já eram usadas em terapias empíricas por médicos da Grécia e do Egito antigos. Já no século 18, Franz Mesmer afirmava poder curar doenças através do magnetismo (ele fora o criador do Mesmerismo, ou teoria do magnetismo animal). Em 1898 e em 1910, foram registradas as primeiras tentativas científicas de usar o magnetismo para alterar a atividade cerebral. O uso de grandes imãs aplicados no córtex da parte posterior do cérebro (o lobo occipital, responsável pela visão) provocou o aparecimento de flashes de luz em pessoas normais.

Já no século 20, há registros de vários tratamentos  para doenças neurológicas na Europa utilizando-se a força eletromagnética. Em 1980, Merton e Morton estimularam a área do córtex cerebral responsável pela movimentação (o córtex motor) sem ter de abrir a cabeça da pessoa. 

Mas foi somente na década de 90 do século passado que a TMS começou a se desenvolver como técnica de diagnóstico, tratamento e pesquisa. Observou-se a utilidade da técnica, que era fácil de ser aplicada, indolor e sem necessidade de cirurgia de qualquer tipo. 

Em 2009, finalmente a FDA (órgão regulamentador de saúde dos EUA) aprovou um aparelho, o NeuroStar TMS System ® (veja abaixo) para o tratamento de depressão maior resistente às medicações antidepressivas.

http://tmsofwestchester.com/wp-content/uploads/2011/09/TMS_Of_Westchester_NeuroStar_Coil.jpg

https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTVd5uoAxHzEHACTaw8owWIznxiFP2-HaVf9BdjJhtda8-yQvV7

Acima, vemos o estimulador (na verdade, um gerador de campo magnético) sendo aplicado ao couro cabeludo de pacientes. 

Mas qual a base científica desse procedimento?

Um campo magnético nada mais é do que o produto da passagem de uma corrente elétrica por um condutor. Sabe-se também que o cérebro, assim como todo o corpo, possui eletricidade gerada através da interação entre os vários íons (átomos carregados eletricamente de sódio, potássio, cálcio, cloro). Na verdade, o estimulador acaba por conectar o campo magnético externo, criado, ao campo magnético normal do cérebro. 

https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRzk0noRvJmZGJeSgsy7a5JEnzZiZ-osyi52bQ9ZlWNYUV6z3VDYw
Corrente elétrica através de um condutor gera um campo magnético.

Há vários estudos que documentam os efeitos fisiológicos da TMS, tanto com pulsos únicos de estimulação como com pulsos repetidos. Pode-se observar modificações nas propriedades eletroquimicas dos neurônios (os neurônios possuem alto metabolismo e suas sinapses são eletricidade pura), que persistem por algum tempo mesmo após a parada da estimulação. Esta estimulação pode, digamos, corrigir atividades anormais dos neurônios.

Os mecanismos da TMS são vários. Modificações de neurotransmissores, diminuição do estresse oxidativo (por radicais livres), indução de genes (algo ainda mais interessante, porque mexe com o DNA), modificações no fluxo sanguíneo cerebral, são algumas das possibilidades de ação da TMS.

As indicações variam, e tendem a crescer. Se você souber ler em inglês, tiver curiosidade, e acessar a página da PubMed (vá aqui) colcocando nos termos de pesquisa Transcranial Magnetic Stimulation (TMS), você encontrará 8993 artigos sobre o assunto, lidando com os mais variados temas, desde pesquisa clínica, diagnóstico de várias condições até tratamento de várias doenças, e mesmo reabilitação pós-AVC.

Algumas doenças podem se beneficiar da técnica, como depressão e transtorno bipolar, epilepsia, enxaqueca, dor crônica, e talvez doenças degenerativas como esclerose múltipla, doença de Parkinson e doença de Huntington (leia mais sobre isso aqui).

Nos próximos posts, falaremos mais sobre esta técnica no tratamento de várias doenças neurológicas, e esboçaremos comentários sobre o tratamento da depressão.

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Comente na minha página do Facebook - Dr Flávio Sekeff Sallem,
Médico Neurologista