domingo, janeiro 27, 2013

Musicoterapia no tratamento da enxaqueca

Post enviado pela musicoterapeuta Helena D'Angelo, e cedido gentilmente para publicação no blog.


A Musicoterapia como tratamento para enxaquecas

Interpretação clínica

Mulher de trinta e seis anos procura a musicoterapia em razão de uma enxaqueca crônica, que a acompanha, desde os quinze anos de idade. Consultou neurologistas, gastroenterologistas, otorrinolaringologistas e nutricionistas, realizando exames por estes pedidos e os resultados dos mesmos, foram considerados normais, além de não portar quadro genético ou queixa semelhante em histórico familiar.

Os sintomas da paciente são dores de cabeça diárias, iniciando em via de regra no início da tarde, associadas a fotofobia e acompanhadas de auras (Visão de luzes piscando, linhas ziguezagueando, ou manchas cegas).

Faz uso do topiramato diariamente, naratriptano nas crises e alguns analgésicos mais comuns como dipirona e paracetamol, que por muitas vezes, só aliviam a intensidade da dor. A maioria dos medicamentos prescritos em fase aguda consiste de um agonista dos receptores de serotonina ou triptanos (supramiptano, naratriptano, zolmitripitano ou rizatriptano).

As causas da enxaqueca não são completamente compreendidas, sendo observadas em pesquisas como decorrência, na sua maioria, dos níveis anormais de substâncias naturalmente produzidas pelo cérebro. Também pode-se dizer que a enxaqueca é de causa multifatorial, podendo ter desencadeadores como falta de sono ou má qualidade do mesmo, não ter horários fixos para as refeições, stress, ansiedade, dores crônicas e/ou problemas hormonais.

As enxaquecas são mais comuns em mulheres que em homens, ocorrendo mais frequentemente entre os 20 e os 45 anos de idade. Alguns remédios ministrados diariamente podem prevenir ou reduzir a frequência e a intensidade das crises de enxaqueca, tais como antidepressivos (amitriptilina, nortriptilina), anticonvulsivantes (divalproato de sódio, topiramato), beta-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, e outras medicações. No entanto, estas podem gerar efeitos colaterais como sonolência, fadiga crônica e apatia.

Assim, a paciente foi submetida a musicoterapia. Dentro do tratamento musicoterápico, a paciente passou por sessões semanais, sendo submetida à técnica de vibroacústica, que consiste no recebimento de ondas sonoras puras de baixa freqüência e ondas de pressão sonora, combinadas com músicas determinadas, calmantes e relaxantes.

Os princípios da vibroacústica foram relatados pela primeira vez no I simpósio da International Society for Music por Olav Skill. Seu principal trabalho documentado foi o manual de vibroacústica em 1991.

As pesquisas voltadas para a vibroacústica já ultrapassam o período de trinta anos, envolvendo pesquisadores como Olav Skill, Tony Wigran, Giorgio di Franco, George Patrick e outros. Essa pesquisas podem ser encontradas em publicações especializadas e artigos específicos tanto nas áreas de música e tecnologia, como na própria musicoterapia (vide abaixo).

Carre R (2007) diz que a música representa uma intervenção analgésica efetiva para dor aguda e crônica dentro de diversas condições fisiológicas e psíquicas, inclusive no âmbito da medicina.

O Dr. George Patrick conduziu um programa no National Institute for Health (NIH) dos EUA, demonstrando que pode ser observada uma redução acentuada entre 49% e 61% na dor e na ansiedade dos pacientes que participaram das sessões de terapia vibroacústica. 

As ondas sonoras de baixa freqüência foram transferidas ao corpo da paciente através de uma unidade vibroacústica (cama devidamente equipada com transdutores, auto falantes). Os auto falantes emitiam a frequência previamente escolhida e estudada, enquanto a paciente concomitantemente, ouvia através de fones de ouvido, um som escolhido pela sua preferência (riacho).

A proposta seria de dez sessões, começando inicialmente com dez minutos de recebimento, durante quatro semanas, uma vez por semana.

A paciente notou uma melhora significativa logo na primeira fase, relatando que pela primeira vez, não havia tido as dores diárias. Na segunda fase foi aumentado o tempo de exposição de dez para vinte minutos, mantendo o mesmo som de riacho escolhido inicialmente.

A diferença fundamental nessa segunda fase foi que a paciente não fez mais uso do medicamento diário e as poucas dores relatadas foram de uma baixa intensidade, que para ela, nem foram consideradas enxaquecas.

Nas duas últimas semanas do tratamento, a paciente não teve dor de cabeça nenhum dia, relatando muita satisfação e bem estar geral.

Após o questionário e as avaliações com anamnese e ficha musicoterápica, pude concluir que as frequências utilizadas auxiliam no aumento da produção de endorfina e serotonia como diz um dos estudos, podendo ser um dos pontos chaves para a ausência da dor, já que as mesmas são substâncias anestésicas naturais do corpo.

Além dos benefícios acima citados, o tratamento musicoterápico, pode ser considerado não invasivo e não farmacológico, anulando os efeitos colaterais dos analgésicos e anti-inflamatórios, e dos medicamentos profiláticos utilizados nas terapias médicas convencionais.

Referências bibliográficas:




Carrer R (2007) “Musicoterapia vibroacústica e  tecnologia”.

A fisioterapia na doença de Parkinson

Post escrito pela Dra. Tatiana de Queiroz Oliveira, Fisioterapeuta - 111274/F
Especialista em Nutrição e Exercício Físico, Membro do Grupo de Pesquisa em Neuropsicofarmacologia - UFC, e gentilmente cedido pela mesma para publicação no Blog.

A doença de Parkinson (DP) é uma doença degenerativa e progressiva do sistema nervoso central (SNC) que se caracteriza pela morte neuronal da substância negra, com consequente diminuição da dopamina, levando a alterações motoras típicas: tremor, rigidez e bradicinesia (lentidão dos movimentos).

A fisioterapia tem um importante papel na reabilitação dos pacientes com DP. Seu objetivo é melhorar a mobilidade, a força muscular, o equilíbrio e a aptidão física, proporcionando uma melhora da qualidade de vida.

O tratamento consiste de exercícios motores, treinamento de marcha (ou seja, o ato de andar), das atividades diárias e exercícios respiratórios. Outra meta é educar o paciente e a família sobre os benefícios da terapia por exercícios.

Técnicas como a Facilitação Neuromuscular Propioceptiva (FNP), que utiliza movimentos rítmicos que simulam movimentos funcionais, buscam reduzir os efeitos debilitantes da bradicinesia, o aumento da amplitude de movimento e da mobilidade. A utilização da FNP no tratamento de pacientes com DP promove uma melhora da postura do paciente, evitando o desenvolvimento do padrão flexor característico da evolução da doença.

Os problemas de equilíbrio podem ser tratados com a reabilitação vestibular (RV), que é um recurso terapêutico que envolve estimulações visuais proprioceptivas (estimulação das vias sensitivas que saem dos músculos e juntas e os ligam ao cérebro - por conta da propriocepção, você consegue saber onde seu corpo e seus membros se encontram no espaço sem olhar para elas) e vestibulares (ou seja, ligados ao labirinto), com a finalidade de manter o equilíbrio corporal. Os problemas de controle postural e equilíbrio têm impacto direto na marcha e na segurança do paciente. Por esse motivo, o treinamento da marcha é um dos principais objetivos da reabilitação na DP.

Com a evolução da doença ocorre uma deterioração da condição física caracterizada pela pobreza dos movimentos e assim uma diminuição das atividades diárias. Exercícios aeróbicos como caminhada ou esteira ergométrica e exercícios de fortalecimento muscular melhoram o desempenho funcional e a qualidade de vida de pacientes com DP.

Um programa de tratamento fisioterápico, incluindo exercícios com a bola suíça, promove alongamento da musculatura, melhora da estabilidade postural e mobilidade dos tecidos moles.

A rigidez muscular característica da DP promove uma diminuição da amplitude torácica, fazendo surgir problemas respiratórios que são vinculados à morbidade e à mortalidade desses pacientes. Dessa forma, exercícios respiratórios irão melhorar a função respiratória desses pacientes.

Diversos estudos têm mostrado que a fisioterapia é o treinamento funcional mais adequado para a melhora das dificuldades motoras dos pacientes com Parkinson.


A deglutição na doença de Parkinson


Engolir é uma verdadeira acrobacia, pois envolve movimentos ritmados da boca, língua, elevação da laringe e o fechamento de sua abertura pela epiglote, além de movimentos musculares da parede do esôfago para auxiliar o alimento em sua descida ao estômago.

O ato de engolir pode, devido aos seus muitos passos, ser afetado por várias doenças e várias situações. Todos podemos engasgar em algum momento, mas em pacientes com doença de Parkinson (DP), engasgos são mais frequentes. Aos problema da deglutição, dá-se o nome de disfagia.

A princípio, a causa mais comum dos problemas de deglutição no paciente com DP é a bradicinesia, ou seja, a lentidão da musculatura tanto mastigatória quanto faríngea e esofágica, com mais tempo de mastigação, retardo nas fases da deglutição, e mais tempo de trânsito da comida para o estômago.

Esta mesma bradicinesia pode fazer com que a laringe demore mais tempo para ser fechada pela epiglote enquanto o alimento passar para ao esôfago (que está logo atrás da laringe), fazendo com que o alimento entre de forma indevida na laringe, ocasionando os engasgos e a tosse. Observe uma figura da laringe para você entender o que estamos falando aqui:

https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRFCizVQOCzmlqI7a5Fuwo39yxaY4OSIwrUQyGLoAv3C28B3nSBow
Esta figura mostra a laringe, que fica à frente, e o esôfago, atrás da laringe. Para que a comida não caia na laringe e leve a engasgos, a epiglote, uma membrana mucosa e cartilaginosa que fica entre a laringe e o esôfago, cai sobre a entrada da laringe, tampando-a. 

Lá vai outra figura sobre isso:

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-digestivo/Sistem60.jpg

O paciente com DP pode ter dificuldade de engolir a própria saliva, e mesmo lentidão para fazer tal ato, ficando a saliva parada, acumulando-se na cavidade bucal, levando à sialorreia, ou em termos leigos, à babação. Esta sialorreia é mais comum em fases mais avançadas da doença, mas mesmo pacientes com doença no começo podem ter sialorreia, mais à noite, ficando o travesseiro babado do lado onde o paciente estava dormindo.

O tratamento da disfagia e das alterações de fala será discutido posteriormente.