terça-feira, março 05, 2013

Para que serve o exame de fundo de olho na investigação de dor de cabeça?

Em primeiro lugar, temos de saber o que é o exame de fundo de olho, e temos um post exatamente sobre isso, que seria interessante você ler antes de continuar este aqui - leia sobre o exame de fundo de olho aqui.

A retina, a parte neural do olho, é continuação do próprio cérebro através do nervo óptico. Na verdade, a retina e o cérebro são um só, sendo a retina uma parte especializada deste. 

O nervo óptico também é coberto pelas mesmas membranas que cobrem o cérebro (dura-máter, aracnóide e pia-máter), até uma extensão antes de sua saída da órbita, e também é parcialmente banhado por líquor. Isso significa que várias doenças que acometem o cérebro podem ser diagnosticadas pelo exame de fundo de olho.

Dor de cabeça pode ser causada por vários processos, como infecções (meningite), inflamações, aumento da pressão da cabeça por problemas na circulação do líquido cerebral (líquor), como nas hidrocefalias (leia mais sobre isso aqui), sangramentos cerebrais e outras doenças.

Em vários destes processos, especialmente os que levam a inflamação e aumento da pressão no cérebro, esta inflamação e este aumento de pressão podem se estender para o nervo óptico e aparecer no exame de fundo de olho, geralmente como edema de papila, ou seja, inchaço da retina.

Assim, o médico através do exame de fundo de olho pode, não dar o diagnóstico exato, mas suspeitar que algo de errado está ocorrendo na sua cabeça, e assim solicitar o exame certo para ajudar no diagnóstico.

Observe uma retina normal:

http://pharmaworlds.com/wp-content/uploads/www.pharmaworlds.jpg
Optic Disc é o disco óptico, o local onde penetram as fibras que vêm da retina para o nervo óptico, e de lá para o cérebro. Veja a cor clara e as bordas bem definidas do diaco óptico. A macula é a mácula ou fóvea, o local de maior concentração de células de cores, os cones, e portanto, o local de melhor visão do olho, ou o local da visão central (leia mais sobre as células da retina aqui).

Observe agora um exame de fundoscopia de um paciente com pressão aumentada na cabeça:

http://www.pedsoncologyeducation.com/img/pap1_002.jpg
Este é um fundo de olho de uma criança com um tumor cerebral. Compare com a figura acima - você consegue ver as bordas do disco óptico? E os vasos, parecem normais? Não, parecem dilatados, tortuosos. Também as bordas do disco estão completamente borradas, por conta de inchaço, edema, da papila.

Veja outro caso, desta vez de um paciente que teve um derrame, mas o coágulo que subiu pela carótida mandou um outro menor para a retina, causando obstrução da artéria central da retina e isquemia retiniana:

https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRauObwHfi3I443cgonE1JHX-rOkreRyaClQAzhfTOcrdUkTpG0

Nesta caso acima, observe a parte de baixo da retina, esbranquiçada, por falta de sangue, contrastando com a parte de cima, boa. A artéria retiniana se divide em um ramo superior e um ramo inferior. Isquemias da retina ou afetam a retina inteira, ou afetam ou o segmento superior, ou o segmento inferior.

Ou seja, o exame de fundo de olho é extremamente importante na avaliação de qualquer dor de cabeça, e deve ser sempre feito.

Epidemiologia da esclerose múltipla


Artigo tirado do site da Medlink, site médico especializado pago do qual sou assinante (Medlink)

De acordo com a Wikipedia, Epidemiologia é o estudo (ou a ciência do estudo) dos padrões, causas e efeitos de condições de saúde e de doenças em grupos populacionais definidos (Leia aqui). Ou melhor, epidemiologia é o estudo de como a saúde, e as doenças, se comportam quando se leva em conta uma certa comunidade de pessoas.

Todas as doenças podem se estudadas em termos epidemiológicos, visando-se saber sua frequência, sua prevalência (a presença da doença na população), sua incidência (a presença de novos casos da doença na população), suas causas, suas consequências para a saúde, suas taxas de morbidade (ou seja, o quanto a doença afeta a qualidade de vida) e de mortalidade (o número de pessoas mortas pela doença na população), além de outras questões.

Para a esclerose múltipla (EM) não pode ser diferente. A EM é uma doença inflamatória e degenerativa que se caracteriza pela destruição da mielina, bainha que reveste os neurônios, no sistema nervoso central (para saber mais, leia aqui).

De acordo com o Ministério da Saúde, em uma portaria de 2010, a prevalência da esclerose múltipla no Brasil é de 15 casos para 100,000 habitantes, afetando pessoas em geral entre 18 e 55 anos de idade, embora casos muito precoces e muito tardios tenham sido raramente descritos (Leia aqui).

Nos EUA, em 1992 havia cerca de 250,000 a 350,000 casos de EM, sendo que em 2007, havia cerca de 400,000 casos. A prevalência estimada no mundo todo é de 1,250,000 casos, com uma incidência nos EUA de 4.2 a 7.5 casos novos para cada 100,000 pessoas por ano em 2007.

O número de casos de EM vem aumentando em algumas regiões do globo, ou pelo aumento real dos casos, ou pela melhora dos instrumentos de diagnóstico da doença. Em Minnesota, nos EUA, a prevalência da doença quintuplicou em 70 anos. Sabe-se que a prevalência e a incidência da doença são maiores em países mais frios localizados ao norte do globo, talvez por algum efeito genético, ou ambiental. Sabe-se também que várias outras doenças auto-imunes (Leia sobre isso aqui), como diabetes tipo 1, doença de Chron, e alergias ocorrem mais nestes mesmos países. 

Com relação à variação geográfica, ou seja, a distribuição da doença entre regiões do globo ou países, nota-se que a EM é relativamente rara em regiões próximas à linha do Equador, tornando-se mais frequentes à medida que nos aproximamos dos pólos. Há relação desta variação com heranças genéticas de certas populações do norte da Europa, especialmente a Escandinávia, mas há também influências ambientais. No entanto, em várias regiões, como os EUA, esta diferença da prevalência da doença entre a parte norte e a parte sul está ficando cada vez menor. A incidência é de mais de 30 casos novos por 100,000 pessoas da Islândia à Rússia, além do Canadá, Nova Zelândia e sul da Austrália  (que localizam-se ao sul do planeta, próximo da Antártida). 

A incidência é moderada (em torno de 5 a 29 casos novos por 100,000 habitantes) na região do Mediterrâneo, sul dos EUA e sul da América do Sul. A incidência é pequena (menos de 5 casos novos por 100,000 habitantes) no leste da Ásia, Índia, África, Caribe, América Central, México e Norte da América do Sul. 

Estudos genéticos e de migração, étnicos (ou seja, de raças) e estudos de gêmeos sugerem que genes e o ambiente ambos influenciam o desenvolvimento da EM. Geneticamente,  por exemplo, imigrantes da mesma região de origem que migraram para Israel têm metade da prevalência que judeus nativos da região, sugerindo um componente ambiental. Já outros grupos têm taxas de prevalência mais baixas, como negros africanos, asiáticos e ciganos, sugerindo componentes genéticos. 

Afrodescendentes americanos nascidos em qualquer lugar dos EUA (e geralmente mestiços de outras raças) têm um risco relativo mais alto de ter EM que negros africanos nativos, mas metade da chance de caucasianos (brancos) americanos. A doença é ainda um pouco diferente da doença apresentada por caucasianos. 

Ou seja, há componente genético envolvido, mas não podemos descartar em nenhuma hipótese a participação de fatores ambientais (que serão discutidos no próximo post) na determinação dos riscos de desenvolvimento da EM.