segunda-feira, março 03, 2014

O cigarro em adolescentes - Novas evidências

Artigo retirado da revista Discover Magazine (leia aqui a íntegra em inglês), publicado em 3 de março de 2014, e traduzido livremente para o blog Neuroinformação.

O fumo pode alterar a esgrutura cerebal dos jovens


É sabido que fumar cigarros é ruim para sua saúde, mas jovens ainda estão escolhendo fumar mais do que qualquer outro grupo social nos EUA (e pelas minhas observações, no Brasil também). Os pesquisadores, agora, têm evidência que uma parte específica do cérebro varia entre fumantes e não fumantes, alteração esta que ocorre mesmo em jovens que estão fumando há pouco tempo.

Pesquisas prévias demonstraram modificações cerebrais entre fumantes e não fumantes adultos, mas poucos focaram no grupo mais jovem de fumantes, cujos cérebro ainda estão se desenvolvendo. O novo estudo indica que uma pequena parte de uma região cerebral chamada de ínsula (veja abaixo) é mais fina em jovens que fumam. 

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/12/Brain_lobes_-_insular_lobe.png
Acima, você vê o lobo da ínsula em vermelho, localizado por dentro do lobo temporal que foi removido. 

A ínsula é uma parte do córtex cerebral e está envolvido em moldar nossa consciência e emoções. A ínsula também abriga uma alta concentração de receptores nicotínicos (sim, há receptores cerebrais que se ligam a substâncias que se assemelham à nicotina, encontrada no cigarro), e que desempenham um papel crítico em gerar a necessidade do fumo. O estudo, publicado na revista Neuropsychopharmacology (leia o abstract em inglês técnico aqui) essa semana, focou nesta parte em particular do cérebro porque estudos prévios em adultos em ratos demonstraram que o volume e o tamanho da ínsula eram afetados pelo fumo.

Foi usada uma técnica investigativa de ressonância magnética funcional para comparar os cérebros de 18 fumantes e 24 não fumantes de 16 a 21 anos de idade, que haviam começado a fumar, em média, aos 15 anos de idade, e que em média fumavam 6 a 7 cigarros por dia (não muito, concordam?).

Os exames demonstraram que a espessura da ínsula direita estava mais diminuída nos fumantes. Quem havia fumando por mais tempo ou tinham uma necessidade maior do fumo, tinham a ínsula mais fina. 

Ou seja, o fumo tem relação com alteração da estrutura cerebral muito mais do que se pensa, e em uma idade ainda mais precoce caso o fumo seja iniciado precocemente, e isso tem relação ao vício em fumo. 

Mas o estudo não demonstrou se o fumo causou as variações. Pode ser que pessoas com ínsulas menores, já antes de fumar, têm maior probabilidade de iniciar o fumo por alguma razão ainda desconhecida. Mais estudos, com pessoas ainda mais jovens que nunca fumaram, diz a autora, devem ser realizados. Estes indivíduos seriam seguidos, observados, após eles terem começado a fumar, e poderia ser visto se, de fato, uma ínsula menor é um preditor de uma predisposição para iniciar o fumo.

Por outro lado, se provar-se que o fumo realmente diminui a espessura da ínsula, isso forneceria mais evidência dos malefícios do hábito de fumar, especialmente daquele iniciado em uma idade mais precoce.