quarta-feira, julho 16, 2014

Quedas no idoso - o que o leigo precisa saber para contar ao médico

Quedas em pacientes idosos são frequentes. Muitos pacientes caem por conta de escorregões, e algumas vezes não sabemos nos lembrar da causa exata da queda.

O que é importante reportar ao médico na hora de uma consulta por conta de uma queda em um paciente idoso (o que vale mesmo para pacientes jovens), para que o médico consiga dar o diagnóstico da causa da queda?

1. Alguém viu a queda? Se sim, leve essa pessoa na consulta, ou converse com ela sobre como foi a queda (o que o paciente estava fazendo, por onde estava andando, se foi ao se levantar, se o paciente escorregou ou tropeçou em algo, se o paciente levantou-se rapidamente, se essa pessoa observou alguma postura diferente, abalos musculares ou palidez da pele com frio de extremidades).

2. O que o paciente sentiu antes da queda? O paciente pode não ser capaz de lembrar, ou pode não conseguir expressar os sintomas que teve. Mas é importante saber se o paciente sentiu mal estar, tontura (sugestivas de queda de pressão), dormência, fraqueza de algum lado, dor de cabeça (sugestivos de derrame ou sangramento cerebral), cansaço, taquicardia, falta de ar, sensação de cabeça vazia (também sugestivos de queda de pressão ou arritmia cardíaca), perda visual (que pode sugerir várias coisas, ma stambém queda de pressão), sensação de queimação ou algo subindo pela boca do estômago (que pode sugerir crise epiléptica).

3. Houve perda de consciência? Isso é muito importante, pois queda com o paciente acordado fala contra desmaios ou crises epilépticas generalizadas. Fora que perda súbita de circulação cerebral pode levar a quedas com manutenção do nível de consciência (drop attacks, típicos de estreitamentos graves de vasos cerebrais).

Nos próximos ítens, vamos considerar que o paciente teve uma queda com perda de consciência.

4. Houve perda de consciência! Ok, então, podemos ter um desmaio por queda de pressão, arritmia cardíaca ou mesmo uma crise epiléptica. O diagnóstico diferencial entre essas condições passa por:

5. Houve alteração da cor e da temperatura da pele? Queda de pressão e arritmias (que produzem desmaio que chamamos de síncopes - http://neuroinformacao.blogspot.com.br/2011/05/sincope-ou-desmaio.html) produzem palidez e frio de extremidades. O paciente pode não sentir nada antes, ou sente frio, formigamento difuso no corpo, náuseas, sensação de cabeça vazia, mal estar, pode ter taquicardia, e cai. Já as crises epilépticas, em geral, deixam o paciente com lábios e dedos roxos (cianose) por conta da parada da respiração.

6. Houve mordedura de língua? Se o paciente que desmaiou mordeu a língua no episódio, o médico pode pesquisar onde foi a mordedura, pois a localização da lesão na língua pode se relacionar à causa do desmaio. Mordeduras na parte lateral da língua são 100% específicas de crises epilépticas (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7487261), enquanto que mordeduras na ponta da língua podem ser por síncopes.

7. Houve liberação de urina e o paciente espumou pela boca? Esses dois sintomas não sugerem muita coisa, pois pacientes que desmaiam pode urinar na roupa se estiverem com a bexiga cheia, e pacientes com a bexiga vazia que têm crise epiléptica podem não urinar na roupa. A famosa "baba" pode ocorrer com ambos os eventos, mas são mais comuns, mas não ocorrem sempre, nas crises epilépticas.

8. O paciente "se bateu"? Abalos musculares difusos durante desmaios são extremamente típicos de crises epilépticas, mas algumas formas de síncopes, especialmente se forem acompanhados de diminuição de fluxo sanguíneo cerebral, como em idosos, podem apresentar alguns abalos, ao que chamamos de síncope convulsiva.

9. O desmaio demorou muito ou foi "rapidinho"? Desmaios em que o paciente cai e logo levanta, especialmente se forem acompanhados de palidez e frio, falam a favor de síncopes. Uma crise epiléptica pode ser muito prolongada (1 minuto ou mais), mas pode ser rápida, durando alguns segundos.

10.  O paciente acordou logo após, ou demorou para acordar? O paciente ficou confuso após o episódio? Caso o desmaio tenha sido breve, e o paciente logo acordou sabendo onde estava, o que estava fazendo, e quem são os que o rodeiam, a chance de uma síncope, ou seja, um desmaio por queda de pressão ou arritmia, é maior. Na maior parte das crises epilépticas que cursam com perda de consciência, as famosas crises generalizadas, o paciente demora um pouco para voltar a si, e se acorda logo, pode não reconhecer familiares, ficar agressivo, ou mesmo não acordar completamente e permanecer confuso por minutos a horas. Há relatos de pacientes que permaneceram em um estado crepuscular (ou seja, em confusão) por muitas horas. Esse fenômeno de confusão após o evento (ou icto), ou seja, confusão pós-ictal, é muito sugestivo de crise epiléptica generalizada.

E por último:

11. Houve trauma craniano? É muito importante saber disso, e reconhecer, pois ou o idoso feriu a cabeça e precisará de sutura da área ferida, e/ou o médico precisará saber disso para solicitar algum exame que determine se houve sangramento ou lesão dentro da cabeça, ao redor ou dentro do cérebro.