quarta-feira, abril 30, 2014

Tratamento da sonolência na doença de Parkinson - novas modalidades de terapia

A doença de Parkinson não demonstra somente sintomas motores, como tremores, lentidão e rigidez. Há também sintomas não motores, e entre estes destacamos a sonolência. Pacientes portadores de doença de Parkinson podem apresentar sonolência excessiva durante o dia e insônia à noite. Várias são as modalidades de tratamento, mas recentemente pesquisadores sugeriram uma nova forma, não medicamentoda, de tratamento deste sintoma tão problemático.

Este assunto baseia-se em texto publicado na Medscape Neurology, e foi traduzido livremente para o blog Neuroinformação.

Fototerapia é eficaz para a sonolência diurna em doença de Parkinson

Terapia com luz (fototerapia) é segura e eficaz na melhroa da sonolência diurna em doença de Parkinson, de acordo com um novo estudo.

Os distúrbios do sono na doença de Parkinson estão entre os sintomas não motores mais incapacitantes e mais comuns na doença, afetando cerca de 90% dos pacientes. Os problemas do ciclo sono-vigília (acordar e dormir nas horas certas) têm um impactro significante tanto sobre os pacientes como sobre seus familiares e/ou cuidadores, contribuindo para piora da qualidade de vida, prejuízo do humor, piora da memória e aumento dos riscos de acidentes e mesmo óbitos.

De acordo com o novo estudo, a exposição à luz brilhante associou-se a melhora significativa na sonolência diurna excessiva, persistindo o efeito pelo tempo do estudo (2 semanas) e até 2 semanas após. Aparentemente, de acordo com outros estudos, o uso da luz brilhante associa-se a melhoras na depressão, bradicinesia, rigidez e discinesias causadas pela medicação. 

O tratamento consiste no uso de luz própria, com intensidade calculada e conhecida (5000 lux - lux é uma medida de intensidade de luz por metro quadrado de área). Outros pacientes receberam uma intensidade de luz menor (300 lux). As sessões duraram 1 hora, 2 vezes por dia por 2 semanas. Todos os pacientes estudados mantiveram suas medicações. 

Houve melhora de vários índices de sonolência e depressão no grupo que recebeu a intensidade maior de luz. Alguns pacientes reclarama de cefaleia (dor de cabeça) e coceira nos olhos, mas nada grave. 

Esse estudo é interessante pois demonstra que há outras formas de tratamento da sonolência na doença de Parkinson. Quem é portador da doença, sabe do que eu estou falando. 

Mas são necessários outros estudos para efetivamente utilizarmos a luz em intensidade conhecida como tratamento da sonolência diurna nos pacientes com a doença de Parkinson.

domingo, abril 20, 2014

A maconha não é tão benigna assim

Artigo tirado do site Medscape Multispecialty (link) e traduzido livremente para o Blog Neuroinformação

Diferenças estruturais do cérebro em pacientes que usam maconha ocasionalmente

Mesmo o fumo ocasional de marijuana (maconha) parece estar associado a diferenças estruturais significativas em regiões cerebrais relacionadas intimamente a motivação, emoções, e recompensa, em comparação a controles não fumantes. 

Há diferenças dose-dependentes (quanto mais se fuma, maior a diferença) na densidade da substância cinzenta, volume e forma de duas regiões cerebrais envolvidas com uma área do cérebro relacionada a emoções e motivação (o sistema límbico), a amígdala (em amarelo abaixo) e o núcleo accumbens (em vermelho abaixo) em jovens saudáveis fumantes ocasionais de maconha. 

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/21/Circuit_du_syst%C3%A8me_de_recompense.jpg

O estudo foi publicado em 16 de abril na revista Journal of Neuroscience (artigo em inglês, na íntegra).

Os pesquisadores avaliaram a morfologia cerebral usando ressonância magnética de alta resolução em 40 adultos jovens entre 18 e 25 anos de idade. Vinte usavam marijuana e 20 nunca haviam usado a droga. 

Houve anormalidades tanto no volume como na forma e na densidade dos núcleos descritos acima entre os fumantes e os não fumantes. Os achados foram inesperados para os autores (houve alterações significativas no núcleo accumbens, no hipotálamo (leia mais sobre isso aqui) e na amígdala) pois os usuários usavam a droga 1 ou duas vezes na semana somente.

Ou seja, o uso discreto da droga pode alterar a conformação cerebral e pode produzir modificações no comportamento e na função cerebral. Além disso, segundo uma pesquisadora, é possível que estas sejam adaptações cerebrais à exposição à droga, e estas novas conexões podem encorajar o uso contínuo de maconha (ou seja, dependência). 

Também, quanto mais se usa a droga, maiores são as alterações cerebrais, de acordo com o estudo. O núcleo accumbens relaciona-se ao prazer e à recompensa, e estes componentes fazem parte da síndrome de dependência a drogas.

Nota do tradutor: Ou seja, não use drogas, nem maconha!!

Não fique apático

Notícia tirada do site USA Today (link) e traduzida livremente para o Blog Neuroinformação.

Apatia pode sinalizar diminuição da massa cerebral na velhice

Apatia não é a mesma coisa que depressão, apesar de seus sintomas serem parecidos. Enquanto depressão significa problemas de autoestima e tristeza/melancolia com significativos efeitos sobre as atividades de vida diária, a apatia subentende diminuição de esforço, iniciativa, falta de interesse em coisas que antes eram interessantes ao paciente, falta de preocupação com a própria saúde, desinteresse, perda da motivação sem evidência de depressão, prejuízo mental ou alteração da consciência. 

Sabe-se que a apatia acomete cerca de 50 a 90% dos pacientes com doença de Alzheimer e 30 a 50% dos pacientes com doença de Parkinson, podendo ser sinal precoce (anos antes do desenvolvimento da perda de memória da doença de Alzheimer ou dos sintomas motores da doença de Parkinson).

Pessoas que mostram evidência de apatia e diminuição de interesse e emoção à medida que envelhecem podem estar sinalizando diminuição do volume cerebral, ou seja, atrofia cerebral. O estudo, publicado na famosa revista Neurology, sugere que a apatia sem depressão pode ser um indicador de doença cerebral.

O estudo mediu duas partes do cérebro - a substância cinzenta associada com o aprendizado e armazenamento de memórias e a substância branca relacionada a estas funções, o local de comunicação entre as várias áreas cerebrais. Usando medidas de volume cerebral, os pesquisadores estudaram os cérebros de 4354 pessoas entre 70 e 80 anos de idades, e perguntaram a estes pacientes questões para medir o grau de apatia (falta de interesse, falta de emoção, retração social, falta de energia e preferência por ficar em casa).

No estudo, pessoas com dois ou mais sintomas de apatia tinham a substância cinzenta 1.4% menor em termos de volume, e a substância branca 1.6% menor em volume do que pessoas com menos de dois sintomas de apatia. Ou seja, elas estavam dois ou três anos mais velhas em termos cerebrais que pessoas da mesma faixa etária. 

A apatia é mais sutil e complexa que a depressão. Ninguém queixa-se de apatia ao médico. Pacientes apáticos podem não sentir motivação para procurar ajuda, de acordo com o pesquisador. Mas diagnosticar apatia pode ajudar a diagnosticar condições crônicas e degenerativas cerebrais mais precocemente. 

Apesar de não haver como combater o envelhecimento e a diminuição do volume cerebral com o passar da idade, talvez exercícios possam alentecer os efeitos da perda de volume cerebral, conforme outros estudos. Além disso, este estudo atual reforça a necessidade de conhecer e estaf ciente dos sintomas de apatia na terceira idade. 

Mas o estudo não determinou quem vem primeiro, se a apatia é um precursor de doença cerebral, ou se a doença cerebral leva a apatia. Assim, a presença de apatia pode sinalizar uma miríade de condições, inclusive a própria depressão sem doença degenerativa cerebral. Mas não devemos ignorar estes sintomas. 

Nota do tradutor: Este estudo demonstra algo que já sabíamos: que há sintomas que se desenvolvem de forma muito precoce em doenças degenerativas, muitas vezes anos antes que estas doenças apareçam definitavamente, e que o diagnóstico desses sintomas (como a apatia) pode auxiliar a diagnosticar doenças cerebrais precocemente e desenvolver meios de tentar alentecer a evolução, como o exercício mental e atividade física regular, fora hábitos de vida saudáveis.

O cérebro dos artistas

Notícia tirada do site da BBC News (link) e traduzida livremente para o Blog Neuroinformação

Artistas têm cérebros estruturalmente diferentes

Exames cerebrais demonstram que os artistas têm maior quantidade de substância cionzenta em áreas relacionadas a movimentos motores finos e imagem visual. A pesquisa publicada na revista Neuroimage (link original) sugere que o talento artístico pode se inato, ou seja, nascido com a pessoa.

Mas treinamento e crescer em um ambiente propício também desempenham papel crucial nesta habilidade. 

De acordo com os pesquisadores, pessoas que desenham bem realmente parecem ter estruturas mais desenvolvidas em regiões cerebrais que controlam a performance motora fina e a memória dita procedural (implícita, ou seja, a memória motora - como andar, andar de bicicleta, dirigir carro, etc.).

Os pesquisadores estudaram os cérebros de 21 artistas e de 23 não artistas utilizando uma técnica que permite a quantificação do volume de áreas cerebrais, a morfometria por voxel (VBM). Os exames demonstraram que os artistas têm mais substância cinzenta, ou seja, mais neurônios em uma área do cérebro chamada de pré-cúneus no lobo parietal (observe abaixo).

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f7/Sobo_1909_624_-_Precuneus.png

Na figura acima, uma imagem do cérebro visto por dentro (o lobo frontal está à direita), observa-se o pré-cúneus como a área avemelhada. Esta área está envolvida em várias funções, especialmente em funções relacionadas à criatividade, como a imagem visual - a capacidade de manipular imagens visuais no cérebro (rodar, virar, desmontar uma objeto somente pensando nele), combinar estas imagens e decompô-las mentalmente. 

As pessoas que desenharam melhor tinham quantidade de substâncias branca e cinzenta aumentadas no cerebelo e também na área motora suplementar (observe abaixo), ambas envolvidas com o controle motor fino e performance em ações do dia-a-dia. 

http://thebrain.mcgill.ca/flash/i/i_06/i_06_cr/i_06_cr_mou/i_06_cr_mou_1a.jpg
Nesta figura acima, a área motora suplementar, em roxo, é uma parte do lobo frontal, cuja função enquadra-se nas funções executivas (leia mais sobre isso aqui).

Mas ainda não se sabe o que esse aumento de massa encefálica pode significar. Talvez isso leve a aumento do processamento cerebral nestas áreas. Sabe-se que o treino e a experiência em determinada atividade realmente muda o cérebro, que é extremamente flexível, plástico, em resposta ao treinamento. Além disso, há grandes diferentes entre pessoas que somente agora estão sendo desvendadas, de acordo com os autores. 

Diferente do que se pensava antes, o aumento da massa encefálica ocorreu em ambos os hemisférios, direito e esquerdo. 

Nota do autor: Ou seja, o cérebro, como já se sabe, não é estático, ele muda constantemente a depender do que lemos, fazemos ou vemos/ouvimos. E podemos aumentar uma área cerebral,m desenvolvê-la desde que realizemos as atividades certas, o treino apropriado, no tempo apropriado. 

A invenção da mielina

Notícia tirada do site Science 2.0 (link) e traduzida livremente para o Blog Neuroinformação

O achado sobre a mielina que vira a neurociência de ponta cabeça

A mielina, a substância isolante que há muito pensava-se ser essencial para a transmissão de impulsos ao longo dos axônios não é tão difusamente presente como se pensava, de acordo com um artigo que vira 160 anos de neurociência de cabeça para baixo.

A mielina (leia sobre ela aqui) é uma invenção relativamente recente durante a evolução. Pensa-se que a mielina permitiu ao cérebro comunicar-se realmente rápido com os extremos do corpo, e que isso permitiu ao cérero ter a capacidade de computar funções ainda mais elevadas.

De fato, a perda da mielina é a característica de várias doenças devastadoras, como a esclerose múltipla e a esquizofrenia (isso para mim também é novo). Mas a nova pesquisa mostra que apesar dos papéis essenciais da mielina no cérebro, alguns dos neurônios mais evoluídos e mais complexos do sistema nervoso possuem menos mielina do que os neurônios mais velhos. 

Ou seja, quanto mais chegamos na parte mais evoluída do cérebro, o córtex cerebral, menos mielina achamos. Além disso, os neurônios desta parte do cérebro demonstram uma nova maneira de posicionar a mielina ao longo de seus axônios (suas ramificações com outros neurônios) diferente do que se conhecia. Eles têm mielinas intermitentes com longos tratos de vias (axônios) sem mielina misturados com segmentos ricos em mielina. 

Diferente do que se pensava sobre os neurônios de que eles usam um perfil universal de distribuição de mielina nos seus axônios, o trabalho indica que neurônios diferentes escolhem mielinizar seus axônios de modo diferente. Ou seja, o que se conhecia antes de segmentos mielinizados separados por segmentos curtos, regulares, sem mielina não é sempre o caso. 

Ou seja, essa nova forma de dispor a mielina é o futuro dos neurônios e seus axônios, pois a diversidade neuronal fica mais complexa a cada passo da evolução, e os neurônios precisam mudar o modo como eles usam a mielina para conseguir mais. 

Essa nova disposição da mielina, de acordo com os autores do estudo, podem dar aos neurônios a oportunidade de ramificar-se cada vez mais e manter contato com neurônios vizinhos. A mielina impede as sinapses, os contatos entre neurônios, e consequentemente, grandes espaços sem mielina podem ser necessários para aumentar a comunicação entre os neurônios e sincronizar as respostas através de populações neuronais diferentes. Assim, faz-se uma regulação fina dos impulsos elétricos através dos axônios a fim de permitir a emergência de comportamentos neuronais altamente complexos. 

Nota minha: Esse estudo é realmente novo pois introduz um conceito de diferenciação da mielinização, algo que antes não era pensado. Realmente, espaços maiores sem mielina permitem a formação de sinapses, de comunicações mais intensas entre os neurônios e a troca mais intensa de informações e sincronização destas informações entre áreas cerebrais distintas, permitindo não só o aumento da velocidade do processamento da informação, mas a formação de bancos de memórias visuais, táteis, verbais, olfativas, e além disso, permitem a comunicação entre áreas cerebrais vizinhas mas de funções diferentes. Ou seja, tudo o que diferencia o cérebro humano dos cérebros de animais menos inteligentes. 

segunda-feira, abril 14, 2014

Seção Perguntas e Respostas - De onde vem o nome enxaqueca?

Enxaqueca é uma doença, de cunho genético em boa parte dos casos, e que cursa com dor de cabeça latejante, com náuseas, luz e barulho incomodando. Na literatura anglosaxônica, o termo para a enxaqueca é Migraine (que deriva do grego  ηeμικρανίον (hêmikraníon), e que quer dizer "metade do crãnio"), o que leva muitos dos especialistas brasileiros a adotar o termo migrânea para chamar a enxaqueca.

Mas o termo enxaqueca vem do árabe, الشقيقة (jaqueca), e que quer dizer migrânea.

Ou seja, é tudo a mesma coisa. 

Seção Perguntas e Respostas - O que é cefaleia?

O que é cefaleia?

Cefaleia é o nome dado a qualquer dor de cabeça, não importa a causa. O nome cefaleia é um termo técnico. O nome provem do latim cephalaea, dor de cabeça.

Já a enxaqueca é uma doença que causa cefaleia. 

terça-feira, abril 08, 2014

Insônia e risco de derrame - mais evidências

Notícia tirada do site Medscape Neurology (link) e traduzida livremente para o Blog Neuroinformação. 

Insônia ligada a aumento do risco de AVC (derrame)


Mais evidências de que insônia aumenta o risco de AVC vêm de resultados de um grande estudo populacional publicado na importante revista Stroke, neste mês de abril (link).

Pesquisadores revisaram os registros médicso da população de Taiwan e compararam os índices de AVC durante 4 anos em 21438 pacientes com diagnóstico de insônia e 64314 pessoas sem insônia, sem diferenças entre sexo e idade entre os dois grupos.

Os resultados mostraram que no geral, pessoas insones tiveram 85% mais chance de ter um derrame. Esse risco diminuiu para 54% após o ajuste estatístico de alguns fatores. O efeito parecia maior em pessoas jovens, com pessoas insones entre 18 e 34 anosd e idade tendo um risco 8 vezes maior de um derrame que pessoas da mesma variação etária sem insônia. 

O autor do estudo afirma que a insônia não deve ser encarada como algo benigno, e sem maiores riscos à saúde. Pessoas, especialmente jovens, com insônia crônica devem procurar auxílio médico para checar seus riscos de AVC, e realizar tratamento quando apropriado. Também, o autor demonstra a importância de checar na história clínica dos pacientes que adentram os consultórios a história de insônia, especialmente em indivíduos mais jovens (geralmente considerados menos propensos à insônia). 

Este estudo segue a linha de vários outros estudos que demonstram a importância de hábitos saudáveis de sono. 

Durante o estudo de 4 anos, 583 participantes com insônia e 962 sem insônia foram admitidos com derrame em Taiwan. Insônia relacionou-se a qualquer tipo de derrame, isquêmico (falta de sangue em determinada área do cérebro) ou hemorrágico (extravasamento de sangue para dentro do cérebro). 

Mais, a associação entre insônia e AVC diminui com a idade, sendo mais frequente essa associação em pessoas mais jovens, geralmente com menos fatores de risco como pressão alta e diabetes. (N.T.:O que temos observado, no entanto, é um aumento da incidência de derrame em pessoas abaixo dos 40 anos de idade, especialmente por maus hábitos de vida, como fumo, uso em excesso de álcool, sedentarismo, má alimentação e obesidade).

Aqueles pacientes com insônia por mais de 6 meses tiveram os maiores riscos de derrame. Claro que outros fatores associaram-se ao aumento no risco de derrame, como idade avançada, diabetes, pressão alta, fibrilação atrial (leia sobre o que é fibrilação atrial aqui), e baixo nível sócio-econômico. 

O porquê da associação entre insônia e derrame não é completamente entendido, mas evidências demonstram que a insônia pode alterar a saúde cardiovascular através de inflamação dos vasos, prejuízo da tolerância à glicose (risco de diabetes), e aumento da pressão arterial. Falta de atividade física, uso de álcool, dieta desregrada, fumo, e estresse podem piorar esta relação. 

Ou seja, temos de diagnosticar e tratar a insônia, especialmente em indivíduos jovens. 

segunda-feira, abril 07, 2014

Os cuidados com o portador de doença de Parkinson - Fase "leve" da doença

Inicialmente, quero lembrar que a DP, apesar de progressiva e sem cura, possui tratamento e é perfeitamente compatível com uma vida produtiva e saudável. Caso você tenha a doença ou tenha sido diagnosticado recentemente com ela, não se envergonhe ou esmoreça. Pense que agora você tem mais um obstáculo a superar, e precisamos de obstáculos todos os dias, ou nossa vida fica vazia. Tenho vários pacientes com a doença, a maior parte muito bem e produzindo, cuidando de casa, dos filhos, do cônjuge, dando aulas, passeando, viajando, trabalhando, divertindo-se e sendo feliz.

Há neste blog vários posts sobre doença de Parkinson que podem ser lidos antes ou conjuntamente com este (12345678910). Neste post vamos discutir um pouco os cuidados com os pacientes portadores desta doença neurodegenerativa tão comum.

A doença de Parkinson (DP) é didaticamente dividida em fases para melhor estudo e compreensão, apesar de que clinicamente estas fases na verdade não existem, e a doença evolui continuamente. 

A DP caracteriza-se por tremor de repouso (mas muitos pacientes podem não ter tremor), rigidez (endurecimento das articulações) e bradicinesia (lentidão). Há à medida que a doença avança instabilidade postural, ou seja, risco de queda quando o paciente fica em pé, anda ou vira. 

No início da doença, em geral não há muita limitação e incapacidade, e esta "fase" pode durar vários anos, dependendo das características individuais de cada doente e do tratamento utilizado. Os pacientes apresentam tremor de repouso que pode atrapalhar (ou somente incomodar) as atividades diárias e o trabalho, além de alguma lentidão e rigidez. A marcha ainda é normal, e quedas são raras no início. Caso haja quedas frequentes nessa fase, diagnósticos outros além de DP devem ser pesquisados. 

É nessa fase que devemos iniciar, tão logo quando possível, o tratamento não medicamentoso, com fonoaudiologia, fisioterapia com treino de marcha e equilíbrio e terapia ocupacional, pois há registros variados na literatura do benefício destes tratamentos na evolução da doença (link). O tratamento fisioterápico e a terapia ocupacional visam criar vias funcionais dentro do cérebro, fortalecer os músculos abdominais e lombares, fortalecer as pernas e permitir uma melhor adequação do paciente às limitações variadas que irão ocorrer com o passar dos anos. 

A fonoaudiologia permite melhorar a fala na DP, que apresenta-se mais baixa e muitas vezes entrecortada, e auxiliar no exercício de deglutição para evitar engasgos, que podem ocorrer com a evolução da doença. 

O sono na DP pode apresentar-se perturbado desde o início do quadro, e insônia, sono agitado, sono entrecortado e sonhos com movimentos em excesso durante o sono (distúrbio do comportamento do sono REM) podem ocorrer, e devem ser discutidos com o médico que assiste o paciente para um tratamento adequado. 

A doença na fase leve manifesta-se, portanto, pelo início dos sintomas de tremor e/ou rigidez com lentidão. 

Para estes sintomas, há tratamento com medicações cuja indicação depende da idade, grau de incapacidade, sintoma predominante, doenças que o paciente apresenta, efeitos colaterais pregressos e preferência do médico e/ou do paciente. 

A doença pode ser apresentar em várias idades, podendo haver pacientes iniciando a doença acima dos 30 anos de idade (sim, a DP não é "doença de velho" como muitos ainda pensam). Há fatores genéticos envolvidos, e há pacientes, felizmente raramente, começando a doença com menos de 30 anos de idade. 

Entre as medicações usadas para tratar os pacientes nesta fase, e dependendo dos fatores demonstrados acima, há o biperideno, a selegilina, o entacapone, o pramipexol, a rasagilina, a levodopa, e a amantadina. Destas medicações, a mais potente é a levodopa (falaremos dela em posts futuros).

Estas medicações podem e devem ser usadas nas outras "fases" da doença a depender da evolução do quadro e da experiência do médico que assiste o paciente. Lembre-se que estas medicações somente podem ser usadas com prescrição e indicação médicas. 

O tratamento da DP começa aqui, no diagnóstico. É aqui que os cuidados devem iniciar, e não serem deixados para quando a doença estiver mais grave. Quanto mais cedo você começar a se cuidar, emagrecer, alimentar-se direito, fazer atividades físicas e iniciar o tratamento não só medicamentoso, mas também fisioterápico, fonoaudiológico e com terapia ocupacional, mais chance você tem de uma doença menos agressiva e uma evolução melhor, apesar de haver variações individuais de pacientes para paciente. 

Falaremos sobre a "fase moderada" em outro post. Até lá. 

domingo, abril 06, 2014

Estresse vs Dor de Cabeça

Notícia tirada do site da NBCNews (link) e traduzida livremente para o Blog Neuroinformação

O estresse está ligado à frequência de dores de cabeça

Pesquisadores alemães confirmaram o que os sofredores de dores de cabeça há anos já suspeitavam: Quando mais estressado você fica, mais frequentes ficam suas dores de cabeça. 

Os mecanismos exato por trás das dores de cabeça (enxaqueca incluída) ainda são misteriosos, apesar de já termos várias pistas. Alguns autores podem somente sugerir uma associação com o estresse, mas os autores do novo estudo afirmam que o estresse desencadeia crises de dor de cabeça. 

O estudo usou dados de 5159 pacientes entre 21 e 71 anos de idade, que responderam questionários a cada 3 meses de 2010 a 2012 sobre tipo e frequência de dores de cabeça, e que usaram  uma escala de 100 pontos para afirmar quanto estresse eles haviam experimentado. 

Após os ajustes estatísticos necessários para idade, sexo, hábitos de uso de álcool, fumo e outras variáveis, os dados se mostraram mais claros. Para aqueles que afirmavam ter "cefaleia por tensão", cada 10 pontos de aumento na escala de estresse associava-se a um aumento de 6.3% no número de dias por mês de dor de cabeça (para quem não tem dor de cabeça, pode parecer pouco, mas para quem tem 15 dias por mês de dor, um aumento de 6.3% significa 22 horas a mais por mês de dor de cabeça, além dos 15 dias).

Enxaquecosos e pacientes portadores de uma mistura de cefaleia tensional + enxaqueca mostraram aumentos com o estresse de suas dores também, em média 4.3% e 4% respectivamente para cada 10 pontos na escala de estresse.

Este estudo concorda com outro estudo do ano passado que afirmou que, nos EUA, o número de internações hospitalares por dor de cabeça aumentou muito durante a recessãod e 2008 - 2009.

Aliviar o estresse pode ser importante para pessoas que experimentam dores de cabeça, porque o estresse pode criar um círculo vicioso, ou seja, ele desencadeia a dor, que aumenta o estresse, e assim vai. O que sugere que o tratamento da dor de cabeça não deve ser somente medicamentoso, mas incluir medidas psicológicas e de redução do estresse, como terapias comportamentais.